Martin Lings
Capitulo III de "Sabedoria tradicional e Superstições Modernas", da Polar Editorial, São Paulo, 1998.
(Tradução de M. Soares de Azevedo)
Martin Lings
Capitulo III de "Sabedoria tradicional e Superstições Modernas", da Polar Editorial, São Paulo, 1998.
(Tradução de M. Soares de Azevedo)
No passado, muito antes de nossa época, houve tentativas isoladas para inventar um meio de elevar o corpo do homem no ar, como imitação do vôo dos pássaros, mas foi apenas em nossos dias, até onde sabemos, que algum sucesso efetivo foi alcançado a esse respeito; e foi apenas a partir de nossos dias que se desenvolveu um interesse generalizado por tais proezas. O entusiasmo enorme e bastante difundido pela "conquista do espaço" e por eventuais "viagens à Lua" não pode ser de todo separado da escalada do Everest e de outras façanhas alpinísticas. Um dos motivos para todas essas atividades é sem dúvida a curiosidade fútil, herança de Pandora. Mas, por mais estranha que esta idéia possa parecer, junto a esta tendência desintegradora e exteriorizante, que pode ser vista como causadora do Pecado Original, não estaria também agindo o motivo subconsciente de reconquistar o que foi perdido com a Queda?
O aspecto distintivo do Homem Primordial é que ele possuía tanto uma natureza supra-humana como uma natureza humana; e o homem ainda retém virtualmente, nas profundezas de seu ser, a necessidade de transcender sua humanidade, de se movimentar "rio-acima", contra a corrente, e restabelecer a conexão entre a alma, que é humana, e o Coração, que é divino. Numa época em que, em termos gerais, esta necessidade é totalmente frustrada no plano da alma — o único onde tem significado —, o ímpeto indestrutível para ir além da esfera normal da humanidade é obrigado a se manifestar num plano mais baixo. Vem daí o que pode ser chamado de superstição do "acima e do além", pois uma superstição é algo que "soçobra" do passado e que continua a vigorar sem ser entendido.
Todas as religiões compartilham a doutrina dos três mundos, os mundos do Espírito, da alma e do corpo. A alma e o corpo, o psíquico e o corporal, compõem o que é comumente chamado de "este mundo". O mundo do Espírito, cujo portal é o Coração, transcende totalmente este mundo, estando além do alcance de qualquer faculdade humana. A faculdade supra-humana que está entronizada no Coração, e que constitui o meio de conexão entre a alma e o Espírito é, como vimos, o que nossos antepassados chamavam de Intelecto.
No Hinduísmo, esta faculdade de visão transcendente é representada em estátuas e outras formas de arte sacra por um terceiro olho, colocado no meio da testa. No Cristianismo e no Islã, esta faculdade é chamada de "Olho do Coração" que, em árabe, a língua sacra do Islã, significa também a "Fonte do Coração"; e é nesta fonte que a alma bebe do "Elixir da Vida". Também no Cristianismo estes dois simbolismos estão combinados, pois uma tradição conta que no momento em que Lúcifer caiu do Céu seu olho frontal despencou na Terra sob a forma de uma esmeralda, que foi então incrustada no cálice do Santo Graal.
O pensamento, que inclui razão, imaginação e memória, é em si mesmo uma faculdade puramente humana, mas, através da continuidade virtual que existe entre a alma e o Espírito, o pensamento pode ser penetrado em certa medida pela luz do Intelecto. O propósito da metafísica, o estudo do que está "além da natureza", isto é, além deste mundo, é abrir a mente a essa penetração e dar aos pensamentos uma disposição ascendente. Esta [penetração da luz do Intelecto] é, estritamente falando, a maior elevação que o homem enquanto tal é capaz, pois, para além desta, termina o humano e começa o supra-humano. Não obstante, a característica essencial do homem é o seu contato com o supra-humano, e este paradoxo é expresso pelo termo taoísta Chenn-Jen (Homem Verdadeiro), que é aplicado apenas ao homem cuja alma readquiriu contato com o Espírito.
Nos últimos quatro séculos, o pensamento ocidental tornou-se cada vez mais dominado pelo Humanismo, que é centrado não no conceito do "Homem Verdadeiro", mas no "homem tal qual o conhecemos", isto é, como o membro mais elevado do reino animal. É irônico que, desinte-ressando-se do supra-humano, ou mesmo lançando dúvidas sobre sua existência, o Humanismo, que pretende ser a glorificação do homem, procure privar a mente humana de todas as suas reais possibilidades ascendentes, confinando-a, por assim dizer, a uma habitação de teto baixo onde ela mal pode ficar de pé e muito menos voar.
A filosofia moderna é francamente desinteressada das esferas mais elevadas do universo e em geral consideraria mais apropriado que palavras como "intelecto" e "metafísica" fossem guardadas como relíquias do passado, como jóias da coroa em um Estado que se transformou de Reino em República. Mas tais escrúpulos seriam muito pouco lison-jeiros e demasiadamente desmascaradores. Não haveria nenhum encanto em descrever algum herói da ciência ou das letras modernas como "uma pessoa muito cerebral"; no entanto, acontece de um homem poder gastar grande parte de sua vida em atividades totalmente anti-intelectuais, sustentando mesmo que não há nada além da alma humana, e ainda assim ser conhecido como "um dos grandes intelectuais de nossos dias". Não que a palavra tenha realmente mudado de significado, pois estamos ainda muito próximos no tempo da formulação de Mestre Eckhart: "Há algo na alma que é incriado... E isto é o Intelecto." Ainda existe uma diferença entre chamar um homem de "cerebral", ou de intelectual, pois esta última palavra conserva um traço de algo misteriosamente louvado — daí sua utilidade para fins de "propaganda". Do mesmo modo, quando o ditador da ex-União Soviética falava dos "benefícios materiais e espirituais do comunismo", ele preferia cair numa contradição de termos (pois um comunista, por definição, não acredita no Espírito) do que se submeter à inglória banalidade de expressar o que ele realmente quis dizer. E no Ocidente, os humanistas, sejam eles ateus ou agnósticos, são igualmente relutantes em deixar de lado o termo "espiritual", que ainda joga um importante papel em sua retórica. Também não faltam hoje em dia artistas e críticos de arte que, quando avistam uma obra artística nebulosamente destituída de sentido, descrevem-na sem hesitar como "mística". Ainda assim, se é a realidade que se deseja — e o Realismo é supostamente um dos "ideais" de nosso tempo —, então que se admita que os foguetes espaciais levantam vôo de um mundo que está realmente sedento de movimento ascencional em todos os planos mais elevados, um mundo dominado por uma perspectiva que é em muitos aspectos abismai e, na melhor das hipóteses, totalmente achatada.
Por outro lado, não seria errôneo dizer que a perspectiva dos antigos era "alada", já que por todo o seu mundo, no Ocidente e no Oriente, a vida contemplativa era geralmente reconhecida como o tipo de vida mais sublime que um homem podia levar, sendo seu aspecto essência"! a fixação dos pensamentos no Espírito, na aspiração de elevar-se em direção a ele nas asas da intuição intelectual
De acordo com as antigas tradições, a esfera da Lua não é nada mais que um símbolo, isto é, a sombra projetada no mundo material do tempo e do espaço do Céu da Lua, o mais baixo dos sete Céus, e o primeiro dos estágios espirituais pelos quais o ser tem de passar em sua jornada rumo ao Infinito e ao Eterno, depois de ter ultrapassado os limites deste mundo. É na Lua que se passa o primeiro canto do Paraíso de Dante, pois foi a este Céu que ele se alçou do Paraíso Terrestre, após ter escalado a Montanha do Purgatório. A idéia de tentar voar pelo espaço até a Lua material ficou reservada para uma época em que a jornada descrita por Dante raramente é vista como tendo efetivamente ocorrido.
A tudo isso pode ser objetado que a jornada de Dante ainda permanece, de fato, uma possibilidade tão real como nunca, e que há alguns verdadeiros místicos1 vivos no mundo moderno; mesmo na Idade Média, eles nunca passaram de uma minoria. Com relação a este último ponto, o mesmo pode ser dito de épocas e lugares que foram muito melhores do que a Europa medieval. Outro nome da Idade de Ferro como um todo, o de Idade Sombria, advém do fato de nela os místicos, a luz da Terra, serem minoria.
Não obstante, mesmo em uma época tão tardia da Idade de Ferro como a de Dante, esta minoria, longe de ser deixada de lado, estava totalmente alinhada com a maioria, pois representava os mais altos ideais do homem. A Europa ainda estava sob o encanto das palavras de Cristo e, portanto, da narrativa evangélica de Maria e de Marta: como herdeira de Maria e possuidora da "única coisa necessária", esta minoria encontrava-se por assim dizer no topo de uma pirâmide, estabelecendo uma norma à qual uma maioria, que se auto-reconhecia como anormal, procurava observar, e da qual uma influência espiritual podia fluir através dos distintos estratos da sociedade. Num certo sentido esta pirâmide ainda existe, pois sua existência está na própria natureza das coisas; mas, "oficialmente", ela foi posta abaixo.
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Segundo os Purânas hindus,2 a doença física era desconhecida até uma fase bem adiantada da Dwâpara Yuga, isto é, a Idade de Bronze, a terceira das quatro eras. Com relação às antigas ciências da cura, que foram transmitidas desde tempos pré-históricos entre os vários povos, a função do "curandeiro" muitas vezes era simplesmente parte da função do sacerdote e, de qualquer maneira, a própria ciência estava sempre intimamente ligada à religião. Por esta razão, ela estava também mais ou menos vinculada às outras ciências antigas, cada uma das quais constituindo um ramo da religião, e todas estavam baseadas no conhecimento de certas verdades cosmológicas que, segundo a tradição, chegaram ao homem por inspiração e, em certos casos, por revelação.
Todas essas verdades são aspectos da harmonia do universo: constituem as correspondências entre o microcosmo, o macrocosmo e o metacosmo, isto é, entre o pequeno mundo do indivíduo humano, o grande mundo exterior e o outro mundo, que transcende ambos. Tomemos um exemplo: cada planeta (isto é, aqueles planetas visíveis a olho nu que, juntamente com o Sol, perfazem sete) relaciona-se com um metal específico, com certas pedras, plantas e animais, com uma cor particular e uma nota na escala musical; cada planeta tem seu dia da semana e suas horas durante o dia, governa certas partes do corpo e corresponde a certas doenças; no plano psíquico, relaciona-se a certos temperamentos, virtudes e vícios; e, metafisicamente, corresponde a um dos Sete Céus e a certas Potências Angélicas, Santos, Profetas e Nomes Divinos.
Uma ciência nunca poderia chegar a englobar todos os mistérios do universo; há por conseguinte várias e distintas ciências tradicionais da medicina, mas em geral a prática competente de uma dessas ciências pressupunha alguma compreensão não apenas de fisiologia, biologia, botânica, mineralogia, química e física (tratadas de um ponto de vista completamente distinto do das ciências modernas), mas também de astrologia e algumas vezes de música, assim como daquelas ciências que eventualmente são chamadas de ciências dos números e das letras, às quais devem ser acrescentadas a metafísica e a teologia, incluindo um vasto conhecimento prático de liturgia, tudo combinado com uma excepcional aptidão natural para a cura.
Embora admitindo exageros freqüentes, seria insensatez não acreditar em tudo o que a tradição transmitiu, em diferentes partes do mundo, sobre as curas notáveis efetuadas pelas antigas ciências. Mas, entre elas e a medicina moderna não há ligação. E verdade que um ramo da antiga ciência chinesa da medicina, conhecido no Ocidente como "acupuntura", e que ainda é largamente praticado na China e no Japão, tem sido adotado de uma maneira fragmentária por alguns médicos ocidentais, que foram convencidos de seu valor por sua extraordinária eficácia. Mas é bastante duvidoso que este ramo possa se tornar aceitável à generalidade do mundo médico moderno, pois ele se baseia em relações bem pouco evidentes entre distintas partes do corpo, relações estas que meras investigações experimentais jamais poderiam detectar e que a ciência moderna não poderia levar em conta.
Alguns dos médicos ocidentais que praticam a acupuntura tentam na verdade adaptá-la à medicina moderna, sustentando que ela deve ter surgido de experiências. Mas isso não passa de pura hipótese e, à parte o fato inegável da antiga abordagem da ciência, pelo mundo afora, ter sido radicalmente diferente da abordagem moderna, pode-se realmente conceber que é possível descobrir, por meio de simples experiências, que, por exemplo, para uma dor de estômago o tratamento deve ser aplicado num centro nervoso no dedão do pé? Ou que o fígado pode ser tratado via tornozelo, o rim através do joelho, o intestino grosso pelo cotovelo e assim por diante?(3)
Independentemente de algumas raras intrusões, geralmente superficiais, de tais ciências na medicina moderna, e levando em conta certa continuidade entre o passado e o presente — no que diz respeito ao uso de medicamentos ela talvez seja maior do que se supõe —, a medicina moderna é o que ela alega ser: uma invenção puramente humana, baseada simplesmente nas experiências práticas do próprio homem.
A vocação de um médico ainda apresenta inquestionavelmente a natureza sagrada que possui todo auxílio prestado a uma necessidade urgente. E pode-se dizer que isso se aplica também à sua ciência, apesar de seu caráter intrinsecamente não-sacro, pois, apesar da maior parte das invenções modernas não ter "necessidade" de sua "mãe", algumas poucas o têm, especialmente as médicas. Se um homem pudesse vir do passado longínquo até o presente o que o chocaria mais, a habilidade de nossos dentistas, por exemplo, ou a podridão de nossos dentes? Pode-se inclusive argumentar que num mundo flagrantemente superpopuloso e dominado pela doença — onde as enfermidades crescem numa proporção semelhante ao declínio do dom de praticar uma ciência sacra —, a ciência moderna necessita em particular da medicina, isto é, de uma ciência que não é muito exigente quanto às aptidões e qualificações pessoais e que pode ser ensinada a um grande número de homens e mulheres capazes de ser adestrados e organizados para enfrentar a crise.
É bastante duvidoso, contudo, que nossos antepassados admitissem tudo isso. De qualquer maneira, eles certamente teriam sustentado que o ponto de vista humanista que tornou possível o desenvolvimento da medicina moderna provocou por si mesmo muitas das enfermidades que exigem tratamento médico. Tampouco teria escapado à sua atenção que, como o humanismo geral, esta manifestação particular do humanismo — e o mesmo se aplica às outras ciências modernas — apresenta um aspecto suicida. Pois, assim como o humanismo significa a abolição da humanidade, isto é, a eliminação de todas as características específicas do que os taoístas chamam de Homem Verdadeiro, a medicina moderna significa, no final das contas, a abolição da saúde pela degeneração da espécie, causada pelo desenvolvimento de um sistema que permite, e que, portanto, num certo sentido, obriga o homem a desprezar em uma escala enorme a lei de seleção natural, que é o antídoto da natureza contra a decadência. Dizer que vivemos em um mundo onde todos estão meio mortos porque ninguém morre seria certamente um exagero, mas esta é de qualquer forma a tendência. Frustrando finalmente seus próprios objetivos, esta ciência está condenada a ser uma das muitas ilustrações fornecidas pelo mundo moderno sobre a verdade da parábola dos talentos, segundo a qual "daquele que não tem será tirado até o que tem". Mas se em nossos dias a ciência médica escapou em vários sentidos do controle do homem, decididamente o aspecto mais sinistro da situação é que ela assumiu sua importância pseudo-absoluta atual pela usurpação em grande medida de algo que, de fato, concerne ao Absoluto. O mundo moderno dedica ao tratamento dos corpos doentes uma soma incalculável de energia, que no passado era dedicada ao tratamento das almas enfermas. Os homens eram educados na consciência de que todas as almas eram doentes, salvo raríssimas exceções. Não é preciso dizer que os padrões modernos também consideram que muitas almas estejam enfermas e nós somos continuamente advertidos de que tanto o número de criminosos quanto o de loucos aumenta todo dia. Mas a grande maioria das almas — as dos honestos e sãos — é considerada hoje como possuidora de boa saúde, ou, de qualquer maneira, como boa o suficiente para não precisar de tratamento. Supõe-se que essas almas estejam mais ou menos imunes à deteriorização. Perdeu-se de vista o abismo que separa esta assim chamada "boa saúde" da saúde perfeita e, em geral, idéias sobre o que é a perfeita saúde da alma são bem vagas. Essas idéias também não parecem ter sido, via de regra, muito menos vagas nas gerações recentes, as dos últimos dois ou três séculos, cujo moralismo cada vez mais tolo e superficial iria acabar provocando uma reação de ceticismo amoral.
Por outro lado, se nossos antepassados menos recentes sabiam tão bem que suas almas estavam doentes, e se eles compreenderam tão bem a natureza da doença, foi porque sua civilização estava fundada na idéia da saúde psíquica e era dominada pelo conceito da alma perfeita. Eles tampouco estavam sós, pois não se pode sinceramente dizer que este conceito, estando baseado em princípios universais, tenha variado de um lado ao outro do Mundo Antigo, exceto onde a religião tenha se degenerado ao ponto de perder de vista o próprio fim de sua existência, que é acima de tudo reconciliar o homem com sua Fonte Absoluta, Eterna e Infinita. Onde quer que a religião mantenha este propósito em vista, a concepção da mais alta possibilidade humana permanece necessariamente a mesma; e levando em conta certas diferenças de formulação, as grandes religiões do mundo são de fato unânimes em afirmar que o aspecto essencial daquele que reconquistou o estado do Homem Primordial, readquirindo portanto a completa saúde da alma, é a consciência do "reino do Céu dentro de si": ele não tem necessidade de "buscar", pois já encontrou; nem necessidade de "bater", pois já se "abriu" para ele. E, através desta abertura, a alma humana, em forma de espelho, é capaz de refletir as Qualidades Divinas e ser, como foi criada, "à imagem de Deus".
As Qualidades Divinas, como representadas na doutrina islâmica, são de dois tipos, Qualidades de Majestade e Qualidades de Beleza, o que está de acordo com o que outras religiões ensinam, implícita senão explicitamente, sobre a Perfeição Divina.(4) O mais alto ideal no plano humano pode ser então definido como majestade e beleza de alma, às quais devem ser acrescentadas, pela própria natureza das coisas, santidade e humildade; santidade em virtude do contato direto da alma com o Espírito e humildade porque apenas a alma que tem acesso ao espírito é totalmente consciente, por comparação, das limitações da alma como tal.
Em toda civilização teocrática este ideal é encarnado acima de tudo pelo Mensageiro Divino, o fundador da religião sobre a qual a civilização em questão está baseada, e no núcleo de homens e mulheres que foram seus companheiros e sucessores imediatos.
Ele [este ideal] é conservado em seus túmulos, e também nos dos santos mais recentes, e todo santuário como esse enriquece a comunidade com outras possibilidades de peregrinação; é glorificado na liturgia e na poesia, na pintura e na escultura; traduzido na linguagem dos símbolos geométricos, elevase cristalizado na majestade e beleza dos grandes templos, onde também é escutado, transposto para o domínio do ritmo e da cadência, e esta música, fluindo sobre o mundo, fixa sua marca mais ou menos profundamente em todas as músicas não litúrgicas de todos os estratos da sociedade. O mesmo ocorre com as habitações, tanto dos ricos como dos pobres, que são prolongamentos, em modos e graus variados, do local central e comum de culto.
Santidade e humildade são representadas, respectivamente, pela parte superior e pela base da cruz; a majestade, incluindo a justiça e as outras virtudes que refletem o Rigor Divino, é representada pelo braço esquerdo, e a beleza, incluindo todos os reflexos da Misericórdia Divina, pelo direito. Num sentido mais elevado, a majestade é o reflexo do Absoluto e do Eterno; como tal, inseparável da santidade e incluindo implicitamente todas as virtudes, ela é simbolizada pelo traço vertical da Cruz, enquanto a beleza, incluindo explicitamente todas as virtudes e refletindo a Riqueza e a Bondade infinitas de Deus, é simbolizada pela amplitude do traço horizontal.
A convergência de suas extremidades para o centro faz da Cruz também uma imagem da unidade, assim como o fato de apontar para todas as direções a torna uma imagem da totalidade; e aqui reside outro aspecto de ser "à imagem de Deus", que é simultaneamente Um e Todos. Para estar perfeitamente bem, a alma deve ser inteira. "Santidade", "totalidade" e "saúde" são originalmente a mesma palavra6 e só foram diferenciadas em forma e conteúdo pela fragmentação da linguagem. As virtudes da sinceridade e da simplicidade são inseparáveis desta perfeição, pois cada uma a seu modo significa indivisibilidade de alma.
A causa básica da doença do homem é a perda da conexão direta em seu interior entre este mundo e o mundo vindouro, e a conseqüente perda da sensibilidade da alma ao magnetismo divino do Coração, que é o único que pode contrabalançar o ímpeto exteriorizante ao qual toda a criação está sujeita. E quando esse ímpeto não é refreado ocorre com os distintos elementos psíquicos o mesmo que com os raios de um círculo: distanciam-se cada vez mais uns dos outros quanto mais se afastam do centro, tornando-se cada vez mais frouxamente unidos e a alma cada vez me nos uma unidade, cada vez menos simples e sincera. O teor do primeiro mandamento de Cristo surge como um antídoto fulminante contra esta desintegração crônica. O objetivo da religião como um todo é unir firmemente tudo que está disperso no homem por meio da fixação em sua alma de um ímpeto cm direção ao centro, que a colocará mais uma vez ao alcance da atração do Coração. E se isso se aplica acima de tudo aos ritos religiosos, concerne também a tudo o que possui uma função espiritual.
Por exemplo, quando contemplamos uma obra de arte verdadeiramente sacra, a alma inteira se aglutina, como que em resposta a uma ordem imperativa. Não se trata de uma reação fragmentária, pois não podemos nos maravilhar o bastante. Esta é a essência de uma civilização sacra: sempre solicitar, de todas as formas e em todas as circunstâncias, que a alma se concentre e se mantenha coesa. Na resposta das almas a esta solicitação assenta-se uma das grandes superioridades do passado sobre o presente. Para dar um pequeno, mas significativo exemplo: quando escutamos a música para dançar da Idade Média, mesmo aquela das danças mais extrovertidas, não temos em qualquer sentido a impressão de que um fragmento da alma tenha se rebelado e se separado do restante. Ao contrário, esse tipo de música conjura a presença de homens e mulheres que em seus divertimentos não podiam esquecer, e não queriam esquecer, a brevidade fugaz da vida e a certeza da morte.
Nossa atual civilização não faz tais solicitações à alma. Quaisquer que sejam os "remédios" sacramentais que uns poucos possam tomar, o mundo moderno cuida para que os homens estejam perpetuamente cercados por antídotos a esses remédios, por toda sorte de venenos que favorecem a doença ao invés de mantê-la sob controle. É um fato monstruosamente irônico a única civilização que professa não levar em conta a "hereditariedade" e coloca toda a sua fé no "ambiente" ser a única a não possuir um meio ambiente positivo a oferecer. Ademais, não seria exagerado dizer que muito, senão a maior parte, do bem que os homens obtêm hoje corre o sério risco de ser anulado precisamente pelo ambiente no qual eles estão condenados a crescer e a levar suas vidas. Sua educação, o trabalho que a maioria deles tem de fazer, as roupas que eles têm de vestir (9) e talvez acima de tudo a maneira pela qual supostamente se espera que passem suas horas de lazer e "diversão", tudo isto é calculado não apenas para sufocar todo senso de majestade e beleza, mas também para eliminar as virtudes da unidade, da simplicidade e da sinceridade pela fragmentação da substância psíquica. Ao contrário de ser disciplinada para estar sempre "inteira", a alma se esquece de como se dar inteiramente a qualquer coisa que seja, pois há pouco ou nada em sua dieta diária que a faça chegar perto de aprovar algo totalmente. Seu ambiente é como uma multidão de mãos puxando-a de todos os lados apenas para lhe dizer: "Dê-me só um pouco de sua atenção". O número dessas "mãos" não pára de crescer e suas exigências são cada vez mais insignificantes.
Em outras palavras, com relação à sua saúde psíquica, o mundo moderno está se transformando cada vez mais num grande hospital, onde as doenças correm o sério risco de receber um tratamento exatamente contrário ao que precisam, um hospital em que os diabéticos, por assim dizer, são mantidos numa dieta de açúcar — a tal ponto os médicos "lavaram as mãos" quanto à cura das almas, pelo menos no que concerne aos honestos e aos sãos.
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Entre as correspondências nas quais as ciências sacras estão baseadas acha-se a correspondência entre o coração como centro do corpo e o Sol como centro do mundo material; coração e Sol sendo ambos símbolos daquele Coração que é o Centro de todas as coisas. Este conhecimento da centralidade do Sol e de seu simbolismo é dificilmente separável do conhecimento de que a Terra e os planetas se movem ao redor do Sol, e por isso não é surpresa que alguns sábios da Antigüidade tivessem sabido a respeito disso o que os astrônomos modernos sabem hoje em dia. Mas praticamente não há dúvida que, até a época de Copérnico, a maioria dos homens acreditava que o Sol se movia ao redor da Terra. A partir desta época, e sobretudo a partir de Galileu, cada vez mais pessoas vieram a saber que é a Terra que se move ao redor do Sol; e parece que também aqui foi preciso pagar, por um pouco de conhecimento num plano mais baixo, com a perda de um conhecimento muito mais precioso, análogo a ele, num plano mais elevado. Se os antigos em geral não sabiam que a Terra girava em torno do Sol, eles no entanto sabiam que a alma individual, que corresponde à Terra, gira em torno do Sol interior, apesar da ilusão de que o ego humano é em si mesmo um centro independente, ilusão à qual o homem decaído, por definição, está sujeito em certa medida. Hoje em dia, quando o ego humano, em termos coletivos, está perto de atingir o ponto máximo de separação do Coração, e quando são mais espessos os véus entre o Coração e a alma, a ilusão da centralidade do próprio ego está necessariamente em seu ápice. De fato, a maior parte daqueles que aclama a "descoberta" de Copérnico como "um dos marcos do conhecimento humano" têm sérias dúvidas, quando não uma descrença definitiva, acerca da existência mesma do Sol interior. Não que a conquista do conhecimento mais baixo tenha acarretado diretamente a perda do conhecimento mais elevado, apesar da conexão entre ambos os fatos ser maior do que as aparências podem indicar. Mas a perda de um, com o ganho do outro, é inegavelmente uma conseqüência da mudança geral da "perícia" humana do campo espiritual para o material.
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Voar, curar o doente e conhecer o que é central e o que é periférico constituem três exemplos de possibilidades que, sufocadas ou impedidas de se desenvolver num plano superior, irromperam desordenadamente num plano inferior. Tomemos agora um quarto exemplo que, de seu ângulo particular, como cada um dos outros três, abrange toda a questão.
A alma é deste mundo, enquanto que o Espírito não o é; mas, desde que havia a princípio uma relativa continuidade entre a alma e o Espírito, há uma determinada parcela da substância psíquica — parcela esta que fica no limite superior da alma, mais próxima do Coração — que num certo sentido "não é deste mundo", já que sua função é receber do Intelecto a luz do espírito. Num outro sentido, ela é "deste mundo", pois sua função é transmitir tal luz às outras faculdades da alma, e também porque, com o velamento do Intelecto e o fechamento das fronteiras entre os dois mundos, ela foi deixada do lado anímico da fronteira.
Esta porção mais elevada e preciosa da substância psíquica não é nada mais que o domínio das três virtudes: fé, esperança e amor, que constituem os três diferentes modos de aspiração da alma pelo outro mundo. Consideremos por um momento a virtude do meio, que num certo sentido participa das outras duas.
A virtude da esperança consiste em encarar a vida humana como uma jornada que leva à satisfação infinita e eterna de todos os possíveis desejos, desde que certas condições, satisfatoriamente ao alcance de nossas capacidades, sejam cumpridas. Este fim pode ser alcançado não apenas após a morte, mas também, para uns poucos privilegiados — isto é, privilegiados no atual estágio do ciclo — mesmo durante esta vida. De qualquer maneira, para que a vida seja uma jornada na direção correta, as condições a serem cumpridas têm sempre de convir com o movimento "para cima", contra a corrente, apesar de serem muitas as maneiras pelas quais isso pode ser feito. Algumas maneiras são mais fáceis para um grupo da humanidade do que outras — advém daí a diversidade de religiões.
E sempre há, no interior de cada religião, um certo campo de possibilidades, que leva em conta as grandes diferenças entre os indivíduos. Uma vida de perpétua peregrinação, por exemplo, é evidentemente bem diferente na aparência de uma vida dedicada a salmodiar um texto sacro ou a invocar um Nome Divino em perpétuo isolamento do mundo. E também há a possibilidade de uma vida que seja marcada pela invocação ou pela meditação, ou por ambas, mas que exteriormente siga o curso de ganhar a própria subsistência, esta vida podendo ser ou não interrompida de tempos em tempos por uma peregrinação ou por um retiro espiritual. Mas, quaisquer que sejam as diferenças exteriores, no final das contas o objetivo em vista é sempre o mesmo: transcender a individualidade humana por meio de uma graça invocada pelo culto, a fim de recuperar o contato perdido com o Espírito. Mesmo a aspiração religiosa em seu nível mais elementar, isto é, um mínimo legal de culto levado a efeito por temor da danação, pode ser encarado como tendo este fim em vista, pelo menos num sentido indireto, pois a salvação leva à purificação, que é a chave para a santificação.
Era esta, até muito recentemente, a orientação do homem em todo o mundo: os "barcos" estavam todos, por assim dizer, pelo menos voltados para a direção contrária à da corrente, quer a força desta última os arrastasse de fato rio-abaixo ou não. Mas veio um tempo, nos últimos dois séculos ou menos — seria difícil precisá-lo mais exatamente —, em que vários barcos, que estavam negligentemente à deriva rio-abaixo, por falta de um esforço mínimo necessário para manter as proas na direção correta, foram pegos de lado pela correnteza, ficando de certo modo sem nenhuma orientação. A partir desta posição insustentável de dúvida, incerteza e desesperança, não foi difícil à correnteza virar suas proas para a direção mesma em que estavam sendo arrastados. E, com gritos triunfantes de que "finalmente estavam fazendo algum progresso", eles apelaram àqueles que ainda estavam lutando rio-acima contra a corrente para "jogar fora os grilhões da superstição" e "mover-se com os tempos". Um novo credo foi rapidamente inventado, e apesar de suas implicações raramente terem sido analisadas com realismo, postula claramente que todos os esforços realizados pelo homem no último milênio para mover-se contra a correnteza, isto é, os esforços ditos "reacionários" ou "retrógrados", foram completamente inúteis, já que totalmente sem sentido e extraviados. Mas, "apesar de tudo que os reacionários puderam fazer para manter a humanidade na escura noite da ignorância, o elemento progressista tem avançado gradualmente", tanto que nós agora chegamos ao que foi descrito por um político, no início deste século, como "a gloriosa alvorada do mundo".
Enquanto isso, pela apropriação da maioria dos homens eminentes do passado como seus "precursores", sua "doutrina" se torna cada vez mais plausível. E não são apenas os revolucionários de ontem que são aclamados como os campeões do progresso, mas também as grandes figuras espirituais. Deixando de lado o fato de que suas missões consistiam em levar os homens de volta à perfeição primordial na qual a humanidade foi criada, afirma-se que Buda, Cristo e Mohammed estavam "muito à frente de seu tempo".
Com efeito, o ditado "o homem não pode viver sem esperança" teve comprovada sua total exatidão. Pois foi apenas depois de grande parte da humanidade ter deixado de acreditar na possibilidade de um progresso "vertical", o do indivíduo rumo ao Eterno e ao Infinito, que os homens começaram a fixar suas esperanças num vago "progresso" horizontal para a humanidade como um todo, rumo a um estado de "bem-estar" terreno, do qual existem muitas razões não só para duvidar da possibilidade de sua existência, mas também dele ser desejável — na hipótese dele ser o fruto final das tendências hoje em curso — e que, de qualquer maneira, nunca ninguém poderá desfrutar dele por mais de alguns poucos anos, o breve espaço de uma vida humana.
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O agnóstico e o ateu têm liberdade para extirpar um membro do corpo, mas eles não podem, recusando-se a acreditar no Transcendente, livrar-se daqueles elementos psíquicos cuja função normal é veicular a aspiração para o Transcendente; e muito da incongruência do mundo moderno pode ser explicada pela presença, nas almas de seus dirigentes e outros, de somas de substância psíquica não desejada. O perigo desta substância estar "sem ter o que fazer" é ainda maior no sentido de que ela contém o que é em si mesmo o mais precioso e poderoso dos elementos da alma. E, mesmo independentemente dos ateus e agnósticos, a religião meramente indiferente e semi-agnóstica que caracteriza a maior parte dos "líderes do pensamento" no Ocidente moderno que ainda dizem possuir alguma religião é impotente para desobstruir as janelas da alma e construir uma saída para suas aspirações mais elevadas, conseqüentemente a alma perde o equilíbrio e tomba entre as legítimas aspirações terrenas, criando aí distorção e caos, e sufocando, sob o lixo dos sonhos sentimentais e totalmente quiméricos, muito do modesto bem que um sóbrio realismo poderia alcançar se deixado entregue a si mesmo.
É como se um pássaro, incapaz ou recusando-se a voar, devesse estar sempre tropeçando em suas próprias asas. Daquelas virtudes que são de fato as asas da alma, tudo o que fica (superstat) da fé é o rígido fanatismo da pseudo-religião da evolução e do progresso; tudo o que fica da esperança é um otimismo ridículo que caminha pomposamente para o futuro em precários e diminutos degraus de "realizações" humanas — muitas delas bastante questionáveis — através de um pântano de ruínas que este mesmo otimismo se recusa a enxergar; e estas duas superstições são agravadas por um entusiasmo apaixonado que invade a mente e que, por ser monstruosamente desproporcional com relação a todos os seus desígnios, trai a si mesmo como tendo caído do verdadeiro ápice da alma — sendo de fato a culminância mesma deste ápice, o ponto exato da sede do homem pelo Divino —, que é assim invertido e voltado para este mundo, onde ele dissipa toda a sua intensidade, arrastando a alma de futilidade em futilidade, em sua vã busca de um Absoluto terreno.
Notas:
1. O termo "místico" coincide parcialmente com "intelectual", pois o místico é aquele que percebe, ou aspira a perceber, os mistérios do Reino Celeste; e o Intelecto é a faculdade por meio da qual esta percepção se dá. Em geral, "místico" tende a ser o termo mais genérico, enquanto que "intelectual" refere-se de preferência à via mística do conhecimento, e não a do amor, apesar de aqui, por outro lado, "amor intelectual" ser utilizado algumas vezes no sentido de "amor místico" ou "amor espiritual". Para uma definição mais clara e abrangente destas duas vias místicas, ver Frithjof Schuon, Gnosis, pp. 45-46 (John Murray, 1959).
2. Coleção de livros sagrados hindus. (N. do T.)
3. Para um estudo desta ciência, tal como praticada no Ocidente, ver Felix Mann, Acupunture, Heinemann, 1962.
4. Na tradição extremo-oriental estes dois aspectos da Divindade são simbolizados respectivamente pelo dragão e a fênix; na tradição greco-romana, pela águia e o pavão.
5. No Cristianismo estas duas virtudes, assim como majestade c beleza, estão refletidas no duplo nome Iesu-Maria.
6. 'Holiness', 'wholeness' e 'health' em inglês. (N. do T.)
7. Mateus 22:37: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento". (N. do E.)
8. Se o passado pudesse testemunhar o presente ele bradaria, com referência à maior parte dos meios de subsistência no mundo moderno: "O homem foi criado para isso?"
9. Depois do corpo, as roupas são a ambiência mais próxima da alma humana, c possuem um efeito incalculável sobre ela, como os antigos bem o sabiam. Seus trajes, variando magnificamente de civilização para civilização, constituíam sempre um lembrete da dignidade do homem como representante de Deus na Terra. Mas, na Europa Ocidental, temos de recuar quase mil anos a fim de encontrar trajes que se comparem àqueles de outras civilizações tcocráticas, ou à dignidade da simples nudez. E verdade que, já próximo do fim da Idade Media, os cristãos ainda continuavam a mostrar um certo senso de forma e proporção no que vestiam, mas uma marca inconfundivelmente mundana, secular, tinha sido impressa, arauto fatídico do que estava por vir. Da metade do século XVI cm diante, enquanto o restante do mundo permanecia fiel ao traje tradicional, as modas européias avançaram de paroxismo em paroxismo de extravagância e futilidade, numa espécie de agonia mortal dos valores espirituais, para finalizar com um traje que, como observam os árabes, "cheira a ateísmo". Para se ter uma visão objetiva da natureza anti-espiritual dos estilos modernos basta lembrar que, na arte sacra de muitas civilizações, os Espíritos bem-aventurados do Paraíso são representados, sem o mínimo contra senso, em trajes semelhantes àqueles usados pelos próprios artistas e seus contemporâneos. Imaginemos agora uma pintura como esta, feita por um artista moderno, com as imagens vestidas com as mesmas roupas que ele costuma usar... E significativo também que, quanto mais "corretamente" eles estiverem vestidos, isto é, quanto mais representativos seus trajes forem de nosso século em qualquer de suas décadas, mais fragmentado seria o efeito.
10. Várias tradições costumam inclusive dar nomes diversos para a parte da alma que é deste mundo e com ele perece e a que não é deste mundo: a centelha divina c imortal. A tradição judaica as chama, respectivamente, de ruah e neshamah; a tradição hermética (especialmente Paracelso e Boehme), de alma sidérica ou astral e alma espiritual; a tradição grega, de psykhé mortal (que é o conjunto da alma vegetativa e da sensitiva) e de psykhé imortal (que é a alma intelectiva), além da qual estão a Inteligência ou o nous e o espírito ou pneuma ; a tradição islâmica, de nafs amara e de nafs nâtiqa ou qalb (Coração), além das quais estão o aql ou o intelecto e o rüh ou o espírito. (N. do E.)