Cada janela tem sua moldura, ricamente entalhada e recortada, com formas que representam o ar (em cima) e a água (embaixo). A parte interna da lanterna é vazia, não havendo um eixo material que a atravesse; ali é disposto o lume ( à base de resina ou cera ) ou, mais recentemente, a lâmpada elétrica. Os vidros opacos são pintados no tradicional estilo das obras-primas da “escola do Sul” da China , que se distinguem pela delicadeza e despojamento requintado dos meios e o caráter “espontâneo” do procedimento da técnica da aquarela . Ora, estas pinturas da “escola do Sul”, - designação que não tem um sentido geográfico, mas simboliza uma tendência - do Budismo chinês - representa na realidade a pintura taoísta, ta1 como tem sido perpetuada no quadro do Budismo DHYANA chinês e japonês (7) .
Com freqüência, estas pinturas retratam paisagens geomânticas (8) vistas desde doze ângulos diferentes . Como exemplo, é comum apreciarmos nas aquarelas um pequeno templo à beira de uma falésia; montanhas rochosas, lagos e rios, nuvens e vapores numa doce e imperceptível transição desde o solo até o céu.
Familiarizados com os elementos constitutivos e a forma geral da Kon-Tan, podemos iniciar algumas considerações sobre seu simbolismo.
Vimos que na parte superior e inferior da estrutura de madeira que sustenta as janelas existem dois hemisférios : unidas as duas metades , representam o “ovo do mundo ” (9), cuja “fecundação” produz a cosmogênese (10); traspassando o eixo do hemisfério superior, há um gancho que se liga à “corrente dos mundos” (11) (o Sûtrâtmâ (12) do Hinduísmo) , ou ao encadeamento sucessivo dos vários planos de existência, dos quais nosso mundo é um deles.
A Kon-Tan possui seis faces superiores e seis inferiores, perfazendo o número doze, que se refere ao ciclo anual e às doze janelas zodiacais (13). Cada uma das seis faces é dominada por um dragão extremo-oriental ; este conhecido símbolo chinês apresenta a cabeça alada, tronco superior com traços de animal terrestre e sua extremidade inferior com escamas e rabo de peixe ; é o Dragão Pontífice, por dominar e interligar os três mundos : o celeste, o intermediário e o terrestre.
Assim como no Cristianismo e em outras formas tradicionais, o Verbo está no Princípio ; da boca do dragão (“Long”) sai a vertente (“Lon”) de seda amarela e vermelha, representando o Logos ( verbo) como luz e força ; cada cordão de seda representa a influência espiritual que rodeia e sustenta os mundos. O centro da lanterna , vazio, é a sede da Luz ; seu eixo invisível, é o “Pilar Diamantino”, cujo prolongamento inferior sustenta o principal pingente de seda, que simboliza o Rei-Sacerdote, que ocupa por isso posição central no conjunto. O Taoísmo afirma : “do centro imóvel, como o cubo de uma roda, depende a rotação dos mundos”.
Do ponto de vista mais exterior ou superficial, o Kon-Tan espelha o mundo multifacetado através de suas doze janelas; este mundo é iluminado por uma luz interna e é sustentado por uma corrente e seis dragões. No entanto, se considerarmos esta lanterna em profundidade, isto é, desde um ângulo simbólico, ocorre uma verdadeira transformação, no estrito significado etimológico desta palavra : “para além das formas”.
Cada plano aparente que vemos é compreendido, “dominado” e elidido, cedendo lugar a novo aprofundamento, e assim sucessivamente, até que não estamos mais vendo lanterna alguma porque somos vertiginosamente transportados à sua própria essência. Quando isto ocorre, o superficial já não significa nada. Desaparece.
Neste caso, quem vê as paisagens pintadas nas janelas de vidro, na verdade está vendo a harmonia dos elementos naturais em sua máxima manifestação, o que remete o observador à síntese tempo-espaço.
A forma mesma do Kon-Tan sugere tal síntese ao combinar imagens , proporções e ritmo aos números cíclicos (3, 6, 12,36, 108 etc) (14) que determinam a arquitetura de sua estrutura. Esta primeira síntese remete o privilegiado observador à luz que sustenta toda a aparência ou manifestação, luz que não é vista diretamente, mas que está na origem de tudo, associada ao Verbo, que é Long, o dragão cosmológico. Este Dragão está desdobrado em seis no Kon-Tan, pois vimos que o senário sintetiza o macrocosmo e o microcosmo; da sua boca verte o amarelo e o vermelho no tecido da seda, o Verbo enquanto luz e força, o tecido como a trama e a urdidura dos mundos ...(15)