Este pequeno porém magnífico livro é a transcrição de uma conferência de René Guénon na universidade francesa de Sorbonne, publicado originalmente em 1926 na revista “Le Voile d’Isis”.
Em pouco mais de 25 páginas, esta exposição extremamente sintética de Guénon nos oferece as indicações suficientes para compreender o âmbito da autêntica Metafísica Oriental , conceito inteiramente desconhecido para maioria de nossos contemporâneos e, para aqueles cuja forma mental foi moldada pelos vícios característicos das universidades em geral, quase que inapreensível.
A metafísica, como indica a etimologia da palavra, significa o que está além e acima da natureza, isto é, do mundo manifestado onde nos encontramos enquanto indivíduos. O termo “natureza”, por sua vez, designa “aquilo que vem a ser”, isto é “o devir” ; a palavra “princípio” designa “o que se encontra antes do começo”.
É evidente que, para a mentalidade materialista e científica, a instância espiritual simplesmente é algo inconcebível, pois para tal modo de pensar, tudo que existe pode e deve ser examinado à luz das ciências, “pragmaticamente”.
No entanto, seria relativamente fácil desmontar tal superficialidade com esta demonstração lógica irrefutável, contida no primeira estudo publicado de René Guénon, quando tinha pouco mais de 20 anos de idade :
Resumo do estudo "O Demiurgo" de René Guénon
I Como admitir que algo veio do nada? Aceitar isso implicaria um absurdo e a imediata aniquilação de tudo o que existe : o nada sendo ausência, como algo pode vir daí, sendo nada?
II Não pode haver o que não tenha princípio, mas, o que é o princípio ? Não é o Principio Único de todas as coisas?
III Se considerarmos o Universo Total, é evidente que este contém todas as coisas, pois as partes estão contidas no todo.
IV O todo é necessariamente ilimitado, pois se houvesse limite, o que estivesse além deste limite não estaria incluído no todo, e neste caso, não seria o todo.
V O que não tem limite pode ser chamado Infinito e, como contém tudo, é o Princípio de todas as coisas.
VI O Infinito é necessariamente Um, pois dois infinitos se excluiriam mutuamente.
VII Resulta disso que há o Princípio Único de todas as coisas e este é o Princípio Perfeito, pois o Princípio não pode ser tal se não for Perfeito (conjunto de todas as qualidades).
VIII O Perfeito é o Princípio Supremo e Causa Primeira. Contém todas as coisas em potência e produz todas as coisas
Como podemos constatar, tudo depende do Princípio Único e este nos remete à ordem Metafísica, que, identificando-se com o Infinito, evidentemente escapa à toda definição positiva, pois que, impondo-se-lhe qualquer tipo de limite, o que é inerente mesmo às definições, o conceito está necessariamente imperfeito.
Todos os livros que constituem a obra de René Guénon ( 26, incluídas as compilações ) encontram-se intimamente interligados, pois são várias refrações ou aspectos do Conhecimento Tradicional, que é algo “vivo” e “orgânico”, como uma autêntica fonte de água pura, inesgotável.
Podemos compará-la também a uma única jóia composta de várias pedras preciosas cujo centro diamantino muito bem pode ser considerado esta magnífica exposição sobre a Metafísica Oriental. Este livro é um dos fundamentos mais importantes da obra de René Guénon, a partir do qual se irradia toda a majestosa arquitetura tradicional do autêntico Oriente.