Bush e Hitler

GORE VIDAL

"OS USA SÃO CÚMPLICES COM O 11 DE SETEMBRO"

Em 24 de agosto de 1814 as coisas pareciam pretas para a terra da liberdade. Foi o dia em que os ingleses tomaram Washington DC e atearam fogo ao Capitólio e à Casa Branca. O presidente Madison refugiou-se nos bosques dos arredores, na Virgínia, onde esperou, paciente, que a notória reduzida capacidade de atenção dos ingleses se manifestasse, o que aconteceu. Os ingleses se foram e o que poderia ter sido um dia completamente negro acabou representando um tipo de bonança para o comércio da construção civil e os agentes imobiliários do mercado de luxo.

Um ano depois do 11 de setembro ainda não sabemos por quem fomos atacados naquela infame terça-feira, ou por que verdadeiro motivo. Mas está bastante claro para muitos libertários que o 11 de setembro deu cabo não só da nossa frágil Carta de Direitos como também do nosso um dia invejado sistema de governo, que sofrera um golpe mortal no ano anterior quando a Suprema Corte encetou uns passos de dança em ritmo de 5/4 e substituiu um presidente eleito popurlamente pela junta Cheney e Bush do petróleo e do gás.

Enquanto isso, nosso governo cada vez mais inexplicável persegue jogos de todos os tipos mundo fora, acerca dos quais nós os carregadores das lanças (antes conhecidos como o povo) jamais ficaremos sabendo. Mesmo assim temos conseguido algumas respostas para a pergunta: por que não fomos avisados antecipadamente do 11 de setembro? Ao que parece, o fomos, repetidas vezes. Por boa parte do ano nos disseram que, em algum ponto do mês de setembro de 2001, teríamos visitantes hostis em nossos céus. Mas o governo disso nem nos informou nem nos protegeu, a despeito dos alertas de perigo vindos dos presidentes Putin e Mubarrak, de Mossad e mesmo de elementos do nosso próprio FBI. Um painel conjunto de comissões de inteligência do Congresso relatou (19 de setembro de 2002, New York Times) que já cedo em 1996 o terrorista paquistanês Abdul Hakim Murad confessara a agentes federais estar “aprendendo a voar a fim de bater com um avião contra a sede da CIA”.

Tão-só o diretor da CIA, George Tenet, pareceu levar a sério as várias ameaças. Em dezembro de 1998 ele escreveu a seus representantes dizendo “estarmos em guerra” com Osama Bin Laden. O FBI tanto impressionou-se com os alertas de Tenet que a 20 de setembro de 2001 ainda tinha só um analista encarregado em tempo integral da rede al-Qaeda.

De um informe preparado por Bush a início de julho de 2001:
“Nós acreditamos que Osama Bin Laden empreenderá um significativo ataque terrorista contra os interesses dos Estados Unidos e /ou de Israel nas próximas semanas. Será um ataque espetacular, planejado para infligir enormes perdas a instalações ou interesses americanos. As preparações já foram feitas. O ataque ocorrerá com pouco ou nenhum aviso”.

E assim veio a ser. No entanto Condoleezza Rice, a conselheira de segurança nacional, declara jamais haver suspeitado que isso pudesse significar algo mais que o seqüestro de aviões.

Felizmente, em alguma parte além desse cinturão de Washington, existe a Europa – recentemente tachada de anti-semita pela mídia americana porque a maior parte do continente não quer a guerra com o Iraque como o quer a junta, por motivos que ora começamos a compreender, graças a investigadores europeus e asiáticos e suas mídias relativamente livres.

Quanto a “como e por que os Estados Unidos foram atacados em 11 de setembro de 2001”, o melhor, mais equilibrado relato, até agora, é o de Nafeez Mossadeq Ahmed.... Sim, sim, eu sei que ele é um deles. Mas eles com freqüência sabem coisas que nós não sabemos – em especial sobre o que nós estamos aprontando. Cientista político, Ahmed é o diretor executivo do Instituto para Pesquisa de Políticas e Desenvolvimento, um grupo dedicado a promover os direitos humanos, a justiça e a paz em Brighton. O seu livro, The War on Freedom (A Guerra contra a Liberdade) foi recentemente publicado nos Estados Unidos por um pequeno mas bem-conceituado editor.

Ahmed fornece um pano de fundo para a nossa continuada guerra contra o Afeganistão, uma visão que de nenhum modo coincide com o que nos diz a nossa administração. Ele colheu em muitas fontes, de maior nota os informantes americanos que começam a apresentar-se em testemunho – como aqueles agentes do FBI que avisaram seus superiores de que a al-Qaeda planejava um ataque kamikaze contra Nova Iorque e Washington apenas para ouvirem deles que se fossem a público com esses avisos responderiam sob a Lei de Segurança Nacional. Vários desses agentes contrataram como representante David P. Schippers, principal advogado de investigação para a Comissão Judiciária da Câmara dos Estados Unidos. O majestoso Schippers manejou o bem-sucedido impeachment do presidente Clinton na Câmara dos Representantes. Ele pode, se a guerra contra o Iraque não der certo, ser obrigado a desempenhar similares serviços dignos para Bush, que permitiu que o povo americano passasse desavisado de um ataque iminente a duas de nossas cidades - ataque antecipado ao ataque militar planejado pelos Estados Unidos contra o Talibã.

The Guardian (26 de setembro de 2001) relatou que em julho de 2001 um grupo de interessados encontrou-se em um hotel de Berlim para ouvir um antigo oficial do Departamento de Estado, Lee Coldren, transmitir uma menssagem da administração de Bush de que “os Estados Unidos estavam tão descontentes com o Talibã que poderiam estar considerando algum tipo de ação militar ... o mais arrepiante dessa comunicação particular de alerta foi vir – segundo um dos presentes, o diplomata paquistanês Niaz Naik – acompanhada de detalhes específicos de como Bush obteria sucesso...” Quatro dias antes o Guardian relatara que “Osama Bin Laden e o Talibã receberam ameaças de uma possível ação militar americana contra eles dois meses antes dos ataques terroristas a Nova Iorque e a Washington ... [o que] levanta a possibilidade de que Bin Laden estivesse empreendendo um ataque antecipado em resposta ao que ele considerava ameaças americanas”. Uma reprise do “dia da infâmia” no Pacífico 62 anos antes?

Por que os Estados Unidos precisavam de uma aventura na Eurásia

Em 9 de setembro de 2001 foi apresentado a Bush o esboço de uma diretriz de segurança nacional traçando uma campanha global de ação militar, diplomática e de inteligência tendo como alvo a al-Qaeda e escorada em uma ameaça de guerra. Segundo a NBC News: “esperava-se que o presidente Bush assinasse planos detalhados para uma guerra de âmbito mundial contra a al-Qaeda ... mas não teve a chance de fazê-lo antes dos ataques terroristas ... A diretriz, como descrita à NBC News, figurava em essência o mesmo plano de guerra do praticado depois do 11 de setembro. Provavelmente a administração de Bush foi capaz de responder tão rápido ... porque apenas teve de tirar os planos “da gaveta”.

Por último, a BBC News, de 18 de setembro de 2001: “Niak Naik, um ex-secretário das relações exteriores do Paquistão, ouviu de oficiais seniores americanos em meados de julho que se desencadearia uma ação militar contra o Afeganistão em meados de outubro. Naik era de opinião que Washington não abriria mão de sua guerra contra o Afeganistão mesmo se bin Laden fosse entregue de pronto pelo Talibã”.

Será então que o Afeganistão foi transformado em escombros para vingar os 3.000 americanos assassinados por Osama? Dificilmente. A administração de Bush está convencida de os americanos serem tão simplórios que não podem lidar com nenhum cenário mais complexo do que o do respeitável matador solitário e desvairado (desta vez ,com ajudantes zumbis), que comete maldade apenas por diversão porque nos odeia por sermos ricos e livres e ele não. Osama foi escolhido por motivos estéticos para ser o mais assustador logotipo da nossa há muito contemplada invasão e conquista do Afeganistão, cujo planejamento fora decretado “contingência” alguns anos antes do 11 de setembro e, de novo, depois de 20 de dezembro de 2000, quando a extrovertida equipe de Clinton maquinou um plano para atacar a al-Qaeda em retaliação ao ataque ao navio de guerra Cole. O conselheiro de segurança nacional de Clinton, Sandy Berger, expôs o plano pessoalmente a seu sucessor, mas Rice, ainda muita enfronhada em seu papel de diretora da Chevron-Texaco, com obrigações especiais em relação ao Paquistão e o Uzbequistão, hoje nega qualquer tal comunicado. Um ano e meio mais tarde (12 de agosto de 2002), a destemida revista Time relatou esse estranho lapso de memória.

Osama, se foi ele e não uma nação, apenas proporcionou o choque necessário para desencadear uma guerra de conquista. Mas conquista do quê? O que existe no desolado, árido e arenoso Afeganistão digno de conquista? Zbigniew Brzezinski nos conta exatamente o que, em um estudo de 1997 do Conselho de Relações Exteriores com o título de “O Grande Tabuleiro de xadrês: a primazia americana e seus imperativos geoestratégicos”.

Brzezinski, de origem polonesa, foi o aquilino conselheiro de segurança nacional do presidente Carter. No “Grande Tabuleiro de Xadrês” Brzezinski dá uma pequena aula de história. “Desde que os continentes começaram a interagir politicamente, uns 500 anos atrás, a Eurásia tem figurado o centro do poder mundial”. A Eurásia é todo o território ao leste da Alemanha. Ou seja, a Rússia, o Oriente Médio, a China e partes da Índia. Brzezinski reconhece que a Rússia e a China, com fronteiras para a Ásia Central rica em petróleo, são os dois principais poderes ameaçando a hegemonia dos Estados Unidos naquela região.

Ele toma como ponto pacífico os Estados Unidos precisarem exercer controle sobre as antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central, conhecidas por aqueles que as amam como “as com terminação em ão”: o Turcomenistão, o Uzbequistão, o Tadjisquistão e o Quirguistão, todas importantes do ponto de vista de segurança e ambições históricas para ao menos três de seus vizinhos mais imediatos e mais poderosos – a Rússia, a Turquia e o Irã, com a China sinalizando”. Brzezinski observa que o consumo mundial de energia continua crescendo; e portanto vier quem controlar o petróleo/gasolina caspiano controlará a economia mundial. Brzezinski então, reflexivo, parte para a racionalização americana de costume a favor do império: nós nada queremos, jamais, para nós mesmos; desejamos apenas impedir que pessoas más tenham coisas boas com as quais possam prejudicar pessoas boas”. Segue disso que o interesse primário americano é ajudar assegurar que nem um único [outro] poder venha controlar o espaço geopolítico e que a comunidade global tenha um acesso financeiro e econômico desimpedido a esse espaço”.

Brzezinski está bastante ciente de os líderes americanos serem maravilhosamente ignorantes em relação à história e à geografia, portanto ele se aproveita, apenas evitando invocar o politicamente incorreto “destino manifesto”. Ele lembra ao conselho a imensidão da Eurásia. Setenta e cinco por cento da população mundial é eurasiana. Se eu acertei nas contas, isso significa termos, até hoje, apenas o controle de meros 25 por cento das pessoas do mundo. E mais! “A Eurásia responde por 60 por cento do PIB mundial e por três quartos das fontes de energia mundiais conhecidas”.

O plano piloto de Brzezinski para o “nosso” globo obviamente foi aceito pela junta Cheney-Bush. A América corporativa há muito superexcitada com a riquesa mineral eurasiana, já o aprovara desde o início.

Ahmed sintetiza: “Brzezinski claramente imaginou que o estabelecimento, a consolidação e a expansão da hegemonia militar americana desde a Eurásia até a Ásia Central ia requerer uma inaudita militarização aberta das políticas externas, acompanhada de uma inaudita fabricação de apoio e de consenso domésticos para essa militarização”.

O Afeganistão é a porta de entrada para todas essas riquezas. Iremos combater para tomá-las? Não se deveria jamais esquecer que o povo americano não quis lutar em nenhuma das duas guerras mundiais do século vinte, contudo o presidente Wilson nos manobrou para a Primeira enquanto o presidente Roosevelt manobrou os japoneses a darem o primeiro golpe em Pearl Harbor, nos levando a entrar na Segunda como resposta a um maciço ataque externo. Brzezinski compreende tudo isso e, em 1997, está pensando no futuro – bem como no passado. “Ademais, com a América tornando-se cada vez mais uma sociedade multicultural, encontrará maior dificuldade em moldar um consenso acerca de questões de política externa, exceto no caso de uma ameaça externa direta verdadeiramente cerrada e por todos percebida”. Fabricou-se assim o revólver simbólico que cuspiu fumaça negra sobre Manhattan e o Pentágono.

Desde as guerras entre Irã e Iraque denigre-se o Islã como um culto terrorista satânico que incentiva ataques suicidas – contrário, cabe notar, à religião islâmica. Osama foi retratado, com precisão, parece, como um fanático islâmico. De modo a levar-se (“vivo ou morto”) à justiça este perpetrador do mal, o Afeganistão, o alvo do exercício, foi tornado seguro não só para a democracia como para a Union Oil da Califórnia, cujos oleodutos do Turcomenistão ao Afeganistão ao Paquistão e ao porto de Karachi no Oceano Índico haviam sido abandonados sob o regime caótico doTalibã. Atualmente, o oleoduto é um projeto com sinal verde graças ao empossamento pela junta de um funcionário da Unocal (John J. Maresca) como enviado à recem-nascida democracia cujo presidente, Hamid Karzai, é também, segundo o Le Monde, um antigo funcionário de uma subsidiária da Unocal. Conspiração? Coincidência!

Uma vez dobrado o Afeganistão, a junta, que havia conseguido engendrar uma complexa pirueta diplomática-militar, abruptamente substituiu Osama, a personificação do mal, por Sadam. Isso tem sido difícil de explicar, já que não há nada ligando o Iraque ao 11 de setembro. Felizmente, “evidências” estão agora sendo inventadas. Mas é trabalho árduo, dificultado por histórias na imprensa sobre a vasta riqueza em petróleo do Iraque, que deve – para o bem do mundo livre – ser redestinada aos Estados Unidos e consórcios europeus.

Como Brzezinski previra, “uma ameaça externa direta verdadeiramente cerrada e por todos percebida” tornou possível para o presidente executar uma dança de guerra ante o Congresso. “Uma longa guerra”, ele bradou com regozijo. Depois, mencionou um incoerente Eixo do Mal a ser combatido. Embora o Congresso não lhe tenha concedido o FDR Special – uma declaração de guerra – ele de fato obteve permissão para perseguir Osama, que ora pode estar escondendo-se no Iraque.

Bush e o cão que não latiu.

Após o 11 de setembro, a mídia americana encheu-se de denúncias antecipadas contra os antipatriotas “partidários de teorias de conspiração”, não só sempre presentes em nosso meio mas em geral fáceis de serem desacreditados pela mídia já que é um dogma não existirem conspirações na vida americana. No entanto, cerca de um ano atrás, quem haveria de pensar que a maior parte da América corporativa vinha conspirando com os contadores para alterar seus registros contábeis desde, bem, pelo menos os belos dias de Reagan e da desregulamentação. Ironicamente, menos de um ano depois do imenso perigo vindo de fora, nos confrontamos com um inimigo ainda maior vindo de dentro: o capitalismo do bezerro de ouro. Transparência? Teme-se que uma transparência ainda maior apenas vá revelar exércitos de vermes operando debaixo da pele de uma cultura necessitando de um pouco de repouso de modo a se recuperar antes de dar o seu próximo passo gigante, a conquista da Eurásia, uma aventura potencialmente fatal não só para as nossas instituições esgotadas como para nós, os que hoje vivem.

Cumplicidade.

O comportamento do presidente George W. Bush em 11 de setembro certamente levanta toda sorte de suspeitas naturais. Não me vem à mente nenhum outro chefe de estado moderno que continuaria a posar para fotos “afetuosas” de si mesmo escutando as histórias contadas por uma garotinha sobre o seu bode de estimação enquanto aviões seqüestrados jaziam em três prédios.

Pela constituição, Bush não é só o chefe de estado, é o comandante-chefe das Forças Armadas. Em geral, um comandante em uma tal crise iria direto para a sede do comando dirigir as operações enquanto recebe as últimas informações da inteligência.

Foi de fato o que Bush fez – ou não fez – segundo Stan Goff, um veterano aposentado do exército americano que lecionou Ciência e Doutrina militar em West Point. Goff escreve, em “A dita evidência é uma farsa”: “Eu não faço idéia do por quê das pessoas não estarem fazendo algumas perguntas bem específicas em relação às ações de Bush e companhia no dia dos ataques. Quatro aviões são seqüestrados e desviados das rotas em seus planos de vôo, todo o tempo no radar da FAA”.

Goff, a propósito, como outros peritos militares espantados, não consegue imaginar por que não seguiu-se a ordem costumeira de procedimento no caso de seqüestros. Uma vez que um avião desvia-se de seu plano de vôo, são enviados aviões de caça para descobrirem por quê. É lei, e não requer aprovação presidencial, que só precisa ser dada no caso de uma decisão de derrubar-se o avião. Goff esmiuça: “Os aviões foram seqüestrados entre 7:45 e 8:10 da manhã. Quem é notificado? Esse é um acontecimento em si já inaudito. Mas não se notifica o presidente a caminho de uma escola primária da Flórida para ouvir crianças lerem.

Por volta de 8:15 deveria estar aparente que algo está terrivelmente errado. O presidente se encontra então sendo amável com professores. Às 8:45, quando o vôo 11 da American Airlines bate contra a Torre Norte, Bush está aprontando-se para fotos com as crianças. Quatro aviões foram obviamente seqüestrados ao mesmo tempo e um deles acaba de mergulhar nas torres gêmeas, ainda assim ninguém notifica o comandante-chefe nominal.

Ao que parece, ninguém também tampouco despachou [enviou aos ares] interceptores da Força Aérea. Às 9:03, o vôo 175 se choca contra a Torre Sul. Às 9:05 Andrew Card, o chefe da equipe sussurra para Bush, [que] “por um breve instante fica sombrio” segundo os repórteres. Ele cancela a visita na escola e convoca uma reunião de emergência? Não. Prossegue ouvindo os alunos da segunda série ... e continua a banalidade mesmo enquanto o vôo 77 da American Airlines executa uma volta não programada por cima de Ohio e parte na direção de Washington DC.

Deu ordens a Card para despachar as Forças Aéreas? Não. Vinte e cinco extenuantes minutos depois, ele finalmente digna-se a uma declaração pública contando aos Estados Unidos o que já supunham – que houvera um ataque ao World Trade Center. Um avião seqüestrado ruma direto para Washington, mas foram as Forças Aéreas já despachadas para a defesa? Não.

Às 9:35 esse avião executa uma nova volta, 360 [graus] por sobre o Pentágono, todo o tempo rastreado por radar, e o Pentágono não é evacuado, e nos céus de Alexandria e de DC ainda não se os vêem os rápidos caças das Forças Aéreas. Agora, a melhor parte: um piloto que eles querem que acreditemos ter sido treinado em uma escola de principiantes da Flórida para Piper Cubs e Cessnas, executa uma bem-controlada espiral descendo os últimos 7.000 pés em dois minutos e meio, e leva o avião a uma razante que chega a cortar os cabos elétricos do outro lado da rua do Pentágono, o guiando com precisão de encontro à lateral do prédio a 460 nós.

“Quando a teoria sobre aprender-se a voar tão bem assim em uma escola para principiantes começou a perder terrreno, acrescentou-se que os pilotos receberam treinamento adicional em um simulador de vôo. É o mesmo que dizer que você preparou a sua filha adolescente para dirigir a primeira vez em uma auto-estrada na hora do rush comprando para ela um jogo de video game de simulação de trânsito ... Uma história vem sendo arquitetada sobre esses acontecimentos.”

Vem, de fato, e quanto mais a ela se acrescenta, mais confusa fica. O despreendimento do general Richard B. Myers, co-chefe nterino de equipe, causa tanta perplexidade quanto o do presidente, agindo como age de costume em capanha. Myers estava no Capitólio conversando com o senador Max Cleland. Um sargento, escrevendo mais tarde para a AFPS (American Forces Press Service) descreve Myers no Capitólio: “Cumprindo uma obrigação externa, disse, ouviu em um informe da telivisão de que um avião chocara-se contra o World Trade Center. Julgamos ser um avião pequeno ou algo do tipo, disse Myers. Portanto os dois prosseguiram com a visita de serviço.”

O que quer que Myers e Cleland tinham a dizer um ao outro (mais fundos para o exército?) deve ter prendido a atenção, posto que, durante a conversa deles, a AFPS anuncia, “a segunda torre foi atingida por um outro jato”. “Ninguém nos informou disso”, disse Myers. “Mas quando saímos de lá, ficou óbvio. Então, naquele exato momento, alguém disse que o Pentágono fora atingido”. Finalmente alguém “pôs um telefone celular na mão de Myer” e, como em um passe de mágica, o general comandante do Norad – o nosso comando aéreo – estava na linha assim que a missão dos seqüestradores se completava com sucesso, exceto pela missão fracassada na Pensilvânia. Em um testemunho mais tarde à comissão das Forças Armadas no Senado, Myers declarou julgar que, após sua conversa no celular com o Norad, “ a decisão a partir daquele momento foi por se começar o envio de aeronaves”. Eram 9:40 da manhã. Uma hora e vinte minutos depois dos controladores de vôo saberem do seq6uestro do vôo 11, cinqüenta minutos depois da Torre Norte ter sido atingida.

Essa declaração teria bastado à nossa antiga e séria Força Armada / Aérea para desencadear algumas cortes marciais, com um ou dois impeachments de quebra. Primeiro, Myers afirma não haver recebido informação antes do terceiro ataque. Mas o Pentágono estivera acompanhando os aviões seqüestrados desde pelo menos o momento do ataque na primeira torre; porém, a decisão de enviar os aviões de caça não foi tomada antes do terceiro ataque, no Pentágono. Por último, este é o cão que não latiu. Por lei, os caças deveriam estar no ar por volta de 8:15. Se houvessem estado, todos os aviões seqüestrados poderiam ter sido desviados de seus intentos ou abatidos. Eu não creio que Goff esteja sendo demasiado exigente quando questiona quem e o que impediu a Força Aérea de seguir seu procedimento normal em lugar de esperar uma hora e vinte minutos até o prejuízo estar feito, para só então enviar os caças. Obviamente alguém ordenou à Força Aérea não tomar nenhuma medida para interceptar aqueles seqüestros até que ... o quê?

Em 21 de janeiro de 2002, o analista da mídia canadense, Barry Zwicker, resumiu o caso na CBC-TV: “Naquela manhã nenhum interceptor respondeu em tempo devido à situação de alerta máximo. Incluindo-se os esquadrões Andrews ... a 12 milhas da Casa Branca ... Qualquer seja a explicação para a grande falha, não houve nenhuma comunicação, que eu saiba, de reprimendas. Isto ainda mais enfraquece a “teoria de incompetência”. A incompetência em geral recebe reprimendas. O que me leva a perguntar se existiram ordens de uma retirada.” Em 29 de agosto de 2002, a BBC informa que em 11de setembro haviam “apenas quatro caças de prontidão na região nordeste dos Estados Unidos.” Conspiração? Coincidência? Erro?

Interessante a freqüência com que em nossa história, quando ocorrem desastres, a incompetência é considerada um álibi melhor que ... bem, sim, existem coisas piores. Depois de Pearl Harbor, o Congresso tomou providências para descobrir por que os dois comandantes militares do Havaí, o general Short e o almirante Kimmel, não haviam antecipado o ataque japonês. Mas o presidente Roosevelt antecipou-se a essa investigação com uma investigação sua. Short e Kimmel foram derrubados por incompetência. A “verdade” figura ainda obscura a estes dias.

As armas de distração em massa da mídia

Mas Pearl Harbor já foi muito estudado. O 11 de setembro, está claro, nunca será investigado se depender de Bush. Em janeiro de 2002, a CNN informou que “Bush pediu pessoalmente ao líder da maioria no Senado, Tom Daschle, para limitar a investigação do Congresso dos acontecimentos de 11 de setembro ... O pedido foi feito em um encontro privado com líderes do Congresso ... Fontes contaram que Bush iniciou a conversa ... Ele pediu que, no lugar de uma investigação mais ampla, somente as comissões de inteligência da Câmara e do Senado examinassem as possíveis falhas nas agências federais que podem ter permitido ocorrerem os ataques terroristas... À discussão na terça-feira seguiu-se a uma rara visita do vice-presidente Dick Cheney, sexta-feira passada, com o mesmo pedido ...”

A desculpa apresentada, segundo Daschle, foi que “recursos e pessoal seriam retirados” da guerra contra o terrorismo no caso de uma investigação mais ampla. Assim, por motivos que jamais devemos saber, essas “falhas” devem levar a culpa. Que mais provavelmente não tenham sido falhas – e sim “retiradas” não nos cabe esquadrinhar. Com certeza o fracasso de uma hora e vinte minutos em se enviar caças não poderia dever-se a uma falha ocorrida por toda a inteira Força Aérea ao longo da costa leste. Foi ordenado que cessassem e desistissem do procedimento operacional usual obrigatório.

No meio tempo delegou-se à mídia a costumeira tarefa de incitar a opinião pública contra bin Laden, ainda não comprovado ser o mandante. Esses bombardeios da imprensa com freqüência assemelham-se ao gesto clássico de um mágico para distrair: enquanto observamos as chamativas cores vivas do lenço de seda em uma de suas mãos, ele está enfiando o coelho em nosso bolso com a outra. Nos foi rápido assegurado que a enorme família de Osama, com a sua enorme riqueza, rompera relações com ele, como também o rompera a família real da sua nativa Arábia Saudita. A CIA jurou, mão no coração, que Osama não havia trabalhado para ela na guerra contra a ocupação soviética no Afeganistão. Por último, o rumor de que a família Bush de alguma forma lucrara com o seu longo envolvimento com a família bin Laden era – o que mais haveria de ser? – simplesmente mau gosto partidário.

Mas o envolvimento de Bush Jr. data de ao menos 1979, quando a sua primeira fracassada tentativa de tornar-se um participante da grande liga de petróleo do Texas o uniu a um dado James Bath, de Houston, um amigo da família, quem deu a Bush Jr. $50.000 por uma participação de 5 por cento na firma de Bush, a Arbusto Energy. Nessa época, segundo Wayne Madsen (“Nestes Tempos” – Institute for Public Affairs No. 25), Bath era “o único americano representante dos negócios de Salem bin Laden, chefe da família e irmão (um dos 17) de Osama bin Laden... Em uma declaração emitida pouco depois dos ataques de 11 de setembro, a Casa Branca veementemente negou a conexão, insistindo que Bath investiu seu próprio dinheiro, não o de Salem bin Laden, na Arbusto. Em declarações conflitantes, Bush de início negou jamais conhecer Bath, depois reconheceu a participação dele na Arbusto e estar ciente de que Bath representava interesses sauditas ... depois de várias encarnações, a Arbusto surgiu em 1986 como a Harken Energy Corporation.”

Por detrás de Bush Jr. está Bush Sênior, proveitosamente empregado pelo Carlyle Group, de posse de ao menos 164 empresas mundo afora, inspirando admiração naquele fiel amigo dos ricos, o Wall Street Journal, que observou, cedo em 27 de setembro de 2001: “Se os Estados Unidos estimulam o gasto com defesa em sua busca por findar as alegadas atividades terroristas de bin Laden, pode haver um beneficiário inesperado: a família de bin Laden ... investe em um fundo estabelecido pelo Carlyle Group, um bem-relacionado banco comercial de Washington especializado em aquisições de empresas ligadas à defesa e ao espaço aéreo ... Osama é um entre os mais de 50 filhos de Mohammed bin Laden, o criador do negócio de $5 bilhões da família.”

Mas Bush pai e filho, na busca por riquezas e cargos, ou estão acima da vergonha ou, não se pode evitar pensar, do bom senso. Há a sugestão de que estejam bloqueando a investigação da conexão dos bin Laden com o terrorismo. A agência France Press informou em 4 de novembro de 2001: “Logo depois de George W. Bush tornar-se presidente foi dito aos agentes do FBI investigando os parentes do suspeito saudita de terrorismo, Osama, ... que recuassem...” Segundo a Newsnight da televisão BBC (6 de novembro de 2001): “... uns poucos dias após os seqüestradores decolarem de Boston dirigindo-se às torres gêmeas, um vôo fretado especial saindo do mesmo aeroporto rápido transportou 11 membros da família de Osama para a Arábia Saudita. Isto não concernia à Casa Branca, cuja declaração oficial é estarem os bin Ladens acima de suspeita.” Em “Acima da Lei” (Green Press, 14 de fevereiro de 2002) resume-se: “Tivemos o que parece haver sido o maior fracasso da comunidade de inteligência desde Pearl Harbor, mas o que estamos agora descobrindo é não ter sido um fracasso, sim uma diretriz.” Verdade? Falsidade? Bush Jr. vai estar sob juramento durante a interrogação de impeachment. Será que dele ouviremos: “O que é uma diretriz? O que é?”

Embora os Estados Unidos tenham, por alguns anos, apontado Osama como um mandante terrorista, nenhuma tentativa séria foi feita antes do 11 de setembro para “levá-lo à justiça vivo ou morto, inocente ou culpado”, como requer a lei da selva texana. O plano de ação de Clinton foi passado a Condeleezza Rice por Sandy Berger, você se recordará, mas ela diz não se recordar.

Tão longe no passado quanto o mês de março de 1996, quando Osama estava no Sudão, o major-general Elfatih Erwa, ministro da defesa do Sudão, ofereceu extraditá-lo. Segundo o Washington Post (3 de outubro de 2001), “Erwa declarou que de bom grado vigiaria de perto bin Laden para os Estados Unidos. Mas se isso não fosse o bastante, o governo estava preparado a detê-lo e entregá-lo... [os oficiais americanos] disseram: “apenas peça que deixe o país. Impeça somente que vá para a Somália”, onde um dia ele fora creditado com o bem-sucedido ataque da al-Qaeda às forças americanas que em “93 matou 18 Rangers”. Erwa disse em uma entrevista: “Nós informamos que ele iria para o Afeganistão e eles [os oficiais americanos] nos disseram: Deixe.”

Em 1996 o Sudão expulsou Osama e 3.000 de seus associados. Dois anos mais tarde, a administração de Clinton na grande tradição americana de jamais agradecer pela oferta do Sudão de entregar Osama, passou a atacar com mísseis a fábrica farmacêutica sudanesa, al-Shifa, dando como motivo o Sudão estar abrigando terroristas de bin Laden que estariam fabricando armas químicas e biológicas, quando, na verdade, a fábrica simplesmente estava fazendo vacinas para as Nações Unidos.

Quatro anos depois, John O'Neill, um agente do FBI muito admirado, queixou-se no Times irlandês um mês antes dos ataques: “O Departamento de Estado dos Estados Unidos – e por trás dele o lobby do petróleo que forma a entourage de Bush – bloqueou tentativas de se provar a culpa de bin Laden. O embaixador americano no Yemen proibiu O'Neill, (e sua equipe do FBI) ... de entrar no Yemen em agosto de 2001. O'Neill renunciou, frustrado, e aceitou um novo cargo como chefe de segurança no World Trade Center. Ele morreu no ataque de 11 de setembro.” Obviamente, Osama tem desfrutado de apoio bipartidário americano desde o seu alistamento na guerra da CIA para expulsar os soviéticos do Afeganistão. Mas ao 11 de setembro não mais havia ocupação soviética no Afeganistão, na verdade, não mais existia a União Soviética.

Um mundo tornado seguro para a paz e os oleodutos.

Eu assisti Bush e Cheney na CNN quando do discurso sobre o Eixo do Mal e da proclamação da “longa guerra”. Apontou-se o Iraque, o Irã e a Coréia do Norte como inimigos a serem esmagados pois poderiam ou não estar abrigando terroristas que poderiam ou não nos destruir à noite. Sendo assim, devemos atacar primeiro quando bem quisermos. Desse modo, declaramos “guerra ao terrorismo” – um substantivo abstrato que não pode representar de modo algum uma guerra, já que é necessário um país para tal. Havia, é claro, o inocente Afeganistão, que teve de ser aplainado de grande altura; mas que importância tem o prejuízo colateral – bem como um país inteiro – quando, de acordo com a Time e o NY Times e as redes de TV, o alvo é a personificação de todo o mal?

Como ficou provado, a conquista do Afeganistão nada teve a ver com Osama. Ele foi simplesmente um pretexto para substituir ao Talibã um governo relativamente estável que permitisse à Union Oil da Califórnia deitar seus oléodutos para o proveito de, entre outros, a junta Cheney e Bush.

O cenário? Tudo bem. A sede da Unocal fica, como se poderia esperar, no Texas. Em dezembro de 1997, representantes do Talibã foram convidados a Sugarland, no Texas. Naquele tempo a Unocal já começara a treinar homens afegãos para construírem oleodutos, com a aprovação do governo dos Estados Unidos. A BBC News (4 de dezembro de 1997): “Um porta-voz da empresa Unocal declarou que se esparava que o Talibã passasse vários dias na sede [Texas] da empresa ... um correpondente regional da BBC diz que a proposta de se construir um oleoduto atravessando o Afeganistão faz parte de uma debandada internacional para lucrar com o desenvolvimento dos ricos recursos energéticos do Mar Cáspio.” O Inter Press Service (IPS) informou: “alguns negócios ocidentais vêm demonstrando simpatia ao Talibã a despeito da institucionalização do terror, dos massacres, dos seqüestros e do empobrecimento gerados por esse movimento.” A CNN (6 de outubro de 1996): “Os Estados Unidos deseja laços cordiais [com o Talibã], mas não pode abertamente buscá-los enquanto as mulheres estiverem sendo oprimidas.”

O Talibã, um tanto melhor organizado do que se propalava, contratou como relações públicas uma tal Leila Helms, sobrinha de Richard Helms, ex-diretor da CIA. Em outubro de 1996, o Frankfurter Rundschau informou que a Unocal “havia recebido o sinal verde dos novos donos do poder em Kabul para construírem um oleoduto do Turcomenistão até o Paquistão, via o Afeganistão.” Esse foi um verdadeiro golpe para a Unocal, bem como para outros candidatos a oleodutos, incluindo-se o antigo empregador de Condoleezza, a Chevron. Embora o Talibã já fosse notório por seus crimes imaginativos contra a raça humana, o Wall Street Journal, farejando grana alta, destemido anunciou: “Gostemos deles ou não, o Talibã figura o participante mais capaz de realizar a paz no Afeganistão a esse momento da história.” O NY Times (26 de maio de 1997) pulou a bordo da jamanta do oleoduto. “A administração de Clinton assumiu a posição de que uma vitória do Talibã agiria como contrapeso ao Irã ... e ofereceria a possibilidade de novas rotas de comércio que poderia enfraquecer a influência russa e iraniana na região.”

Mas já ao ano de 1999 estava claro que o Talibã não podia proporcionar a segurança de que precisaríamos para protegermos os nossos frágeis oleodutos. A chegada de Osama à cena como um guerreiro de Alá deu novo foco, por assim dizer, às apostas. Faziam-se agora novas alianças. A administração de Bush logo compra a idéia de uma invasão ao Afeganistão, escreveu no Washington Post (19 de dezembro de 2000) Frederick Starr, chefe do Instituto da Ásia Central, na Universidade Johns Hopkins: “Os Estados Unidos começou a alinhar-se em silêncio com aqueles do governo russo clamando por uma ação militar contra o Afeganistão e brincou com a idéia de uma nova incursão para acabar com bin Laden.”

Embora com muita fanfarra, nos adiantamos para infligir nossa vingança no alucinado e sádico fanático religioso que massacrou 3.000 cidadãos americanos. Uma vez essa “guerra” em curso, Osama foi abandonado como irrelevante e estamos portanto de volta ao oleoduto da Unocal, agora um projeto com sinal verde. Sob a luz do que hoje sabemos, é improvável que a junta jamais capturasse Osama vivo: ele tem histórias para contar. Uma das melhores representações do secretário de defesa, Donald Rumsfeld, hoje é: “Onde está ele? Em algum lugar? Aqui? Lá? Em algum lugar? Quem sabe?” E nos presenteia com o seu melhor piscar de olhos. Ele deve também se encantar – e se espantar – por a mídia ter comprado a história absurda de que Osama, se vivo, ainda estaria no Afeganistão, no subterrâneo, esperando ser trazido para fora em vez de estar em uma confortável mansão na Jacarta, simpatizante de Osama, 2.000 milhas ao Leste e de fácil acesso pelo Tapete Voador One.

Muitos comentaristas de uma certa idade repararam o quão hitleriana soa a nossa junta quando ameaça primeiro um país por abrigar terroristas e depois outro. É verdade que Hitler apreciava fingir ser a parte prejudicada – ou ameaçada – antes de atacar. Mas ele teve muitos grandes predecessores, não de menor importância, a Roma Imperial. A Guerra no Afeganistão, de Stephen Gowan: “Uma bagunça de $28 bilhões, cita Joseph Schumpeter, que, “em 1919, descreveu a Roma antiga de uma forma que soa estranhamente semelhante aos Estados Unidos ao ano de 2001: “Não existiu nenhum pomer do mundo conhecido onde não se alegasse estar algum interesse em perigo ou debaixo de real ataque. Se os interesses não eram romanos, eram os dos aliados de Roma. E se Roma não tinha aliados, esses eram inventados ... A luta sempre investia-se de uma aura de legalidade. Roma sempre estava sendo atacada por vizinhos mal-intencionados.” Nós apenas superamos os romanos em transformarmos metáforas tais como a da guerra ao terrorismo, ou à pobreza, ou à Aids, em guerras de fato contra alvos que nós parecemos, com freqüência, escolher a esmo de modo a mantermos a turbulência em terras estrangeiras.

Desde 1 de agosto de 2002, balões experimentais subiam por toda Washington DC, para acostumar a opinião mundial à idéia de que “Bush do Afeganistão” conquistara um título tão poderoso quanto o do seu pai, “Bush do Golfo Pérsico”, e Júnior agora estava ávido para acrescentar o Iraque-Babilônia a seu diadema. Esses vários balões caíram sobre a Europa e o mundo árabe como um monte de pesos de chumbo. Mas algo novo acrescentou-se desde o clássico mantra romano hitleriano: “eles estão nos ameaçando, precisamos atacar primeiro.” Agora tudo está mais ou menos em aberto. A International Herald Tribune escreveu em agosto de 2002: “Os vazamentos de informação principiaram, intensos, em 5 de julho, quando o New York Times descreveu um plano provisório do Pentágono que disse de até 250.000 necessitar para uma invasão pelas forças dos Estados Unidos, que atacaria o Iraque do Norte, Sul e Oeste. Em 10 de julho, o Times disse que a Jordânia poderia seu usada como base para a invasão. O Washington Post informou, em 28 de julho, que “muitos militares americanos seniores argumentam que Saddam Hussein não figura nenhuma ameaça imediata...” E o status quo deveria ser mantido. A propósito, esse é o tipo de debate que os fundadores intencionavam o Congresso conduzisse em nome do povo, e não os burocratas militares. Mas esse tipo de debate tem , por um longo tempo, nos sido negado.

Hoje um toque refrescante se apresenta, de uma forma que seria impensável na Roma imperial: a alegre admissão de que de hábito recorremos à provocação. A Tribune prossegue: “Donald Rumsfeld ameaçou prender qualquer um responsável pelo vazamento de informação. Mas um general aposentado do exército, Fred Woerner, tende a encontrar um método por detrás desses vazamentos. “Nós podemos já estar executando um plano”, disse recentemente. “Será que estamos envolvidos em uma preliminar dimensão psicológica que levará o Iraque a fazer algo que justifique um ataque dos Estados Unidos ou a fazer concessões? Alguém sabe.” Está claro.

Por toda a parte nesta edição interessante do Herald Tribune o sábio William Pfaff escreve: “Um segundo debate em Washington é o se devemos executar um ataque sem provocação contra o Irã para destruirmos um reator nuclear sendo construindo com ajuda russa, sob a inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica, nos termos do Tratado de Não-proliferação Nuclear do qual o Irã é signatário. Nenhum outro governo apoiaria tal ação, a não ser Israel (que) o faria não por esperar ser atacado pelo Irã, mas porque, não sem justificativa, se opõe a qualque capacidade nuclear nas mãos de qualquer governo islâmico.”

Estados suspeitos e seus tantãs de vigança

“De todos os inimigos à liberdade pública, a guerra talvez seja a mais temível porque compromete e desenvolve o germe de todos outros. Como mãe dos exércitos, a guerra incentiva as dívidas e os impostos, instrumentos conhecidos para se levar os muitos para debaixo da dominação dos poucos. Na guerra, igualmente, o poder discricionário do executivo se estende ... e todos os meios de sedução das mentes se somam aos que diminuem as forças do povo ...” Assim James Madison nos alertou no alvorecer da nossa república.

Após o 11 de setembro, graças à “dominação dos poucos”, o Congresso e a mídia silenciaram-se enquanto o executivo, por intermédio de propaganda e de enquetes oblíquas, seduz a mente pública com a construção de centros de poder até hoje impensados, como o Homeland Defence (um novo posto de gabinete a ser instalado no Departamento de Defesa), e 4 por cento do país recentemente sendo convidado a se unir ao Tips (dicas), um sistema de espionagem civil onde se informa sobre qualquer um que pareça suspeito ou ... que objete ao que o executivo esteja fazendo, em casa ou no exterior.

Embora toda nação saiba– se possuir meios e vontade - como proteger-se contra valentões do tipo que nos trouxeram o 11 de setembro, a guerra não figura uma opção. As guerras são para as nações, não para as gangues sem raízes. Para essas, pomos um preço em suas cabeças e os caçamos. Em anos recentes, a Itália o tem feito com a máfia siciliana, e ninguém sugeriu o bombardeio de Palermo.

Mas a junta Cheney-Bush quer a guerra para dominar o Afeganistão, construir um oleoduto, ganhar para seus associados o controle do petróleo dos países da Eurásia com terminação em “ão”, e também para causar tanto prejuízo quanto possível ao Iraque e ao Irã sob a justificativa de que algum dia esses países malignos podem vir a acarpetar os nossos campos de grãos de cor âmbar com antraz ou outra coisa.

A mídia, nunca uma análise muito boa, apresenta-se mais e mais ofegante e incoerente. Na CNN, até o sólido Jim Clancy começou a hiperventilar quando um acadêmico indiano tentou explicar como o Iraque um dia fora nosso aliado e “amigo” em sua guerra contra nosso inimigo satânico, o Irã. “Sem essa coisa de conspiração”, fungou com desprezo Clancy. Aparentemente, o termo “coisa de conspiração” hoje serve como taquigrafia para o termo verdade indizível.

Desde agosto, pelo menos entre os economistas, crescia um consenso de que, considerando-se a nossa vasta dívida nacional (tomamos emprestado $2 bilhões por dia para mantermos o governo funcionando) e uma base de impostos seriamente reduzida pela junta de modo a beneficiar o 1 por cento dono da maior parte da riqueza nacional, não há como podermos jamais encontrar os bilhões necessários para destruirmos o Iraque em “uma longa guerra”, ou mesmo numa curta, com grande parte da Europa alinhada contra nós. A Alemanha e o Japão pagaram, relutantes, pela Guerra do Golfo – com o Japão, no últimos instante, discutindo irritado acerca da taxa cambial à época do contrato. Hoje a Alemanha de Schroder disse não. O Japão emudeceu.

Mas os tantãs continuam soando vingança; e o fato de a maior parte do mundo se opor à nossa guerra parece apenas trazer rubores confusos às bochechas da administração de Bush (Bush Sênior do Carlyle Group; Bush Jr., antes da Harken; Cheney, antes da Halliburton; Rice, antes da Chevron; Rumsfeld, antes da Ocidental). Se alguma administração deveria recusar-se a lidar com assuntos de energia, essa junta atual o deveria. Mas essa administração difere de toda outra em nossa história. Seus corações nitidamente se encontram em outra parte, fazendo dinheiro, longe de nossas imitações de templos romanos, enquanto nós, infelizmente, ficamos apenas com suas cabeças, sonhando com guerra, de preferência contra fracos Estados periféricos.

Mohammed Heikal é um brilhante jornalista e observador egípcio e, algumas vezes, ministro do exterior. Em 10 de outubro de 2001, ele declarou ao Guardian: “Bin Laden não possui a capacidade para uma operação dessa magnitude. Quando eu ouço Bush falar sobre a al-Qaeda como se essa fosse a Alemanha nazista ou o Partido Comunista da União Soviética, eu acho graça porque eu sei o que é. Bin Laden tem estado sob vigilância por anos: toda chamada telefônica foi monitorada e a al-Qaeda foi penetrada pelas inteligências americana, paquistana, saudita, egípcia. Não poderiam ter mantido secreta uma operação exigindo um tal grau de organização e sofisticação.

O antigo presidente do serviço de inteligência doméstico da Alemanha, Eckehardt Werthebach (American Free Press, 4 de dezembro de 2001) é mais minucioso. Os ataques do 11 de setembro exigiram “anos de planejamento”, ao passo que a escala desses ataques indica terem sido produto de “ações organizadas por um Estado”. Aí está. Talvez, no final das contas, Bush Jr. estivesse certo ao referir-se a uma guerra. Mas qual Estado nos atacou?

Queiram os suspeitos, por favor, enfileirar-se. A Arábia Saudita? “Não, não. Ora, estamos pagando a vocês $50 milhões ao ano para treinarem o corpo da guarda real em nosso próprio sagrado, se bem que árido, solo. É verdade que o reino contém muitos ricos e bem-educados inimigos mas ...” Bush Sênior e Jr. trocam um olhar conhecedor. O Egito? De jeito nenhum. Totalmente quebrado, apesar da gorjeta americana. A Síria? Sem fundos. O Irã? Demasiado orgulhoso para importar-se com um Estado novo-rico comos os Estados Unidos. Israel? Sharon é capaz de tudo. Mas lhe falta a coragem e a graciosidade de um verdadeiro kamikaze. De qualquer forma, Sharon não estava no comando quando essa operação teve início com a instalação de “sonâmbulos” ao redor das escolas de vôo dos Estados Unidos 5 ou 6 anos atrás. Os Estados Unidos? Elementos da América corporativa sem dúvida prosperariam com um “maciço ataque externo” que tornaria possível irmos à guerra quando quer que o presidente julgasse próprio, enquanto suspende as liberdades civis. (As 342 páginas da Lei Patriota dos Estados Unidos foram nitidamente preparads antes do 11 de setembro.) Bush Sênior e Jr. agora dão risadinhas. Por que? Por que Clinton era então presidente. Ao deixar a fila dos suspeitos, ele declara, com mais raiva do que mágoa. “Quando deixamos a Casa Branca tínhamos um plano para uma guerra total à al-Qaeda. O passamos a esta administração e nada fizeram. Por que?” Mordendo os lábios, ele se vai. Os Bushes não mais dão risadinhas. O Paquistão não agüenta: “Fui eu! Confesso! Não me contive. Me salve. Sou um malfeitor!”

Aparentemente foi mesmo o Paquistão – ou parte dele. Agora devemos retornar a 1997 quando lançou-se “a maior operação velada da história da CIA” em resposta à invasão soviética ao Afeganistão. O especialista em Ásia Central, Ahmed Rashid, escreveu (Foreign Affairs, novembro-dezembro de 1999): “Com o encorajamento ativo da CIA e da ISI (Inter Services Intelligence) do Paquistão, que desejavam transformar a jihad afegã em uma guerra global, empreendida por todos os Estados mulçumanos contra a União Soviética, alguns 35.000 radicais mulçumanos de 40 países islâmicos uniram-se à luta do Afeganistão entre 1982 e 1992 ... mais de 100.000 radicais mulçumanos estrangeiros foram diretamente influenciados pela jihad afegã.” A CIA veladamente treinou e patrocinou esses guerreiros.

Em março de 1985, o presidente Reagan emitiu a Diretriz de Desição de Segurança Nacional 166, acrescendo a ajuda militar enquanto especialistas da CIA encontravam-se com suas contrapartes da ISI perto de Rawalpindi, no Paquistão. Jane's Defence Weekly (14 de setembro de 2001) fornece o melhor panorama: “Os treinadores eram principalmente da agência ISI do Paquistão, tendo aprendido seu ofício dos comandos americanos dos Boinas Verdes e das Focas Navais em vários estabelecimentos de treinamento dos Estados Unidos.” Isso explica a relutância da administração em explicar por que tantas pessoas sem qualificação, durante tanto tempo, receberam visas para visitar nossas terras hospitaleiras. Enquanto no Paquistão, o “treinamento em massa de [fanáticos] afegãos foi subseqüentemente conduzido pelo exército paquistanês debaixo da supervisão dos Serviços Especiais de elite ... Em 1988, com o conhecimento dos Estados Unidos, bin Laden criou a al-Qaeda (A Base); um conglomerado de células terroristas islâmicas quase independentes, espalhadas por cerca de 26 países. Washington fechou os olhos para a al-Qaeda”.

Quando o avião de Mohamed Atta atingiu a Torre Norte do World Trade Centre, George W. Bush e a criança na escola primária da Flórida falavam do bode de estimação da menina. Por coincidência, a nossa palavra “tragédia” vem do grego: de tragos, “bode”, mais oide, “canto”. “Canto do bode”. É altamente adeqüado que este lamento, cantado em antigas peças de sátiros, devesse ser ouvido de novo no exato momento quando fomos atacados pelo fogo dos céus, e quando começou para nós uma tragédia cujo fim não se mostra em parte alguma.

© Gore Vidal

FIM