Entre os índios da América do Norte, e em todas as tribos sem exceção existe, além dos ritos de diversos gêneros que têm um caráter coletivo, a prática de uma adoração solitária e silenciosa, que e considerá-la como a mais profunda e de ordem mais elevada ( l ) . Os ritos coletivos, de fato, tem sempre, a um ou outro grau, algo de relativamente exterior; nos dizemos a um ou outro grau porque, nesse assunto é preciso naturalmente, tanto nesta como em qualquer outra tradição, distinguir entre os ritos que se pode qualificar de exotéricos, ou seja, aqueles nos quais todos participam indistintamente, e os ritos iniciáticos. Alias fique bem entendido que, longe de excluir tais ritos ou de opor-se a eles, a adoração da qual se trata se sobrepõe por ser de outra ordem; e cabe pensar que para ser verdadeiramente eficaz e produzir resultados efetivos, ela deve pressupor a iniciação como uma condição necessária (2).
Referindo-se a esta adoração, tem-se por vezes falado de "prece", mas isto é evidentemente inexato, pois não ocorre nenhum pedido, de qualquer natureza; as preces formuladas geralmente nos cânticos rituais só podem, aliás, se endereçar às diversas manifestações divinas (3), e nos devemos ver que se trata aqui de algo completamente diferente. Seria certamente muito mais justo falar de "encantação" tomando este termo no sentido que nós definimos em outra parte (4); pode-se igualmente dizer que é uma "invocação”, entendendo-a em um sentido exatamente comparável àquele do DHIKR na tradição islâmica, mas observando-se que é essencial mente urna invocação silenciosa e toda interior (5).
Vejamos o que escreveu a este respeito Ch. Eastman (6): A adoração do Grande Mistério é silenciosa, solitária, sem complicação interior; ela é silenciosa porque todo discurso é necessariamente falho e imperfeito, também as almas de nossos ancestrais alcançam Deus em uma adoração sem palavras; ela é solitária porque eles pensam que Deus está mais perto de nós na solidão, e não são precisos padres para servirem' de intermediários entre o homem e o Criador.”(7) não pode, de fato, haver intermediários em semelhante caso, pois que esta adoração tende a estabelecer uma comunicação direta com o Princípio supremo, que é designado aqui como o” "Grande Mistério".
Não somente no e pelo silencio e que esta comunicação pode ser obtida, porque o "Grande Mistério" está além de toda forma e de toda expressão, mas o próprio silêncio "é o Grande Mistério"; como entender de modo exato esta afirmação? De inicio, pode-se lembrar a propósito que o verdadeiro "mistério" é essencialmente e exclusivamente inexprimível, que só pode evidentemente ser representado pelo silencio (8); indo além, o Grande Mistério Mistério" sendo o nao-manifestado, o silencio em si, que é propriamente um estado de não-manifestação participa ou está em conformidade com a natureza do Princípio supremo.
Por outro lado, o silencio, relacionado ao Princípio, é, pode-se dizer, o Verbo não proferido; porque "o silencio é sagrado é a voz do Grande Espírito" é que ele está identificado ao Principio mesmo (9); e esta voz, que corresponde à modalidade principial do som que a tradição hindu' designa como PARA ou nao-manifestado (l0), é a resposta ao apelo do ser em adoração apelo e resposta igualmente silenciosos, sendo um aspiração e outro iluminação, mas ambos puramente interiores.