Textos de Luiz Pontual

Você ainda acredita em democracia? (Do you still believe in Democracy?)

Você ainda acredita em democracia?

Apresentação

A idéia deste livro remonta a 1981, quando empreendemos estudo aprofundado da obra magistral de René Guénon, metafísico contemporâneo e escritor consagrado à Tradição. Tratava-se para nós, intelectualmente, de algo inédito e verdadeiramente revolucionário, no sentido etimológico do termo, isto é, um retorno aos princípios e aos valores permanentes.

Guénon denunciou a monstruosidade dos tempos modernos, resultado da ruptura com todas as autênticas tradições da humanidade desde suas origens. Por outro lado, resgatou para o Ocidente seus verdadeiros valores, concordantes em essência com as doutrinas orientais.

A “democracia” é apenas uma ferramenta moderna a serviço do materialismo, da massificação da ignorância e da mediocridade: seus fundamentos não se sustentam, como se verá neste livro. No entanto, a “democracia” tornou-se um verdadeiro tabu. Ninguém pode criticá-la sem logo ser rotulado de “nazista”, seja pela esquerda, seja pelos ditos liberais.

Embora a obra de Guénon, pela natureza mesma de seus temas e pela qualificação intelectual do autor se dirija necessariamente a uma minoria, uma conspiração de silêncio o cerca há um século. Guénon é um ilustre desconhecido, apesar da importância dos seus livros.

Nosso objetivo é atingir um público maior, potencialmente capaz de compreender os motivos e os bastidores da farsa “democrática”, desde que tenha em mãos informações e argumentos suficientes e necessários.

“Você ainda acredita em democracia?” é o resultado, certamente muito imperfeito, deste projeto. Se, por um lado, os argumentos tradicionais desmascaram impiedosamente a farsa democrática, por outro, resgatam verdadeiros valores da humanidade desde sempre, isto é, a transcendência implicada em todas as autênticas religiões e doutrinas sagradas.

Não é suficiente, no entanto, nos limitar à denúncia da farsa democrática ou sua ausência de princípios. É preciso demonstrar, ainda que em linhas gerais, como e quando esta anomalia foi concebida e, finalmente, implementada, o que nos leva a examinar alguns fatos históricos determinantes, entre outros, o surgimento do protestantismo e suas nefastas conseqüências: o materialismo e o combate sem tréguas às verdadeiras religiões e doutrinas tradicionais.

Em nenhuma outra parte do mundo a idéia “democrática” (e protestante) foi tão longe como nos Estados Unidos, que hoje comanda a “globalização”, na base da força bruta. Mas, afinal, o que é este projeto de hegemonia mundial? É a imposição a todos os países, sem exceção, do ponto de vista predominantemente materialista e anti-religioso próprio da “democracia americana”, sob pena de invasão e ocupação militar aos que se recusarem a submeter-se.

O leitor, conhecendo causas e objetivos da ideologia democrática, poderá compreender melhor as razões e o significado do “11 de setembro” , uma conspiração tipicamente norte-americana , destinada a servir de catapulta à guerra frontal às religiões em geral e ao Islã em particular.

Como já é fato consumado em relação ao Afeganistão e Iraque (Síria e Irã serão os próximos?), o objetivo sionista -americano é a invasão, ocupação e imposição do “regime democrático” (anti-religioso) aos países de forte presença islâmica além, é claro, da apropriação das riquezas naturais de importância estratégica, como o petróleo e a água potável.

Os recentes eventos políticos internacionais não são episódios isolados ou simples etapas a cumprir em um projeto geopolítico de alcance restrito. Trata-se, como veremos nas páginas que seguem, de algo com alcance incomparavelmente maior, previsto em todas as tradições autênticas: a guerra final do ponto de vista materialista contra todas as religiões e doutrinas (ao fim de contas, contra Deus, como se isto fosse possível), o que representa nada menos que o fim de um ciclo desta humanidade, com o advento do Anticristo.

Luiz Pontual

Capítulo I - A ilusão democrática

Um dos falsos fundamentos da democracia é o voto, que deveria ser, em princípio, um julgamento coletivo da arte de governar. Ora, ninguém, sinceramente, defenderia a idéia estapafúrdia de que a maioria está qualificada intelectualmente e com conhecimentos suficientes sobre administração e governo para exercer tal julgamento.

Guardadas as devidas proporções, tal suposição igualitária equivaleria a afirmar que todos estão capacitados, por exemplo, a opinar sobre uma questão de medicina. Uma situação real, como um atropelamento, ilustra muito bem tal absurdo: em torno da pessoa gravemente ferida, dezenas de curiosos observam, aflitos, o acontecimento.

– Qual o critério plausível para determinar os que poderiam ajudar o ferido? Naturalmente, os que ali estivessem qualificados para tal, isto é , médicos ou enfermeiros. Uma votação estaria inteiramente fora de propósito, pois a maioria nunca está qualificada para uma função como a medicina, assim como não está para a administração.

Se o raciocínio é válido para o destino de um ferido por atropelamento, é evidente que se levarmos em conta o destino de milhões de indivíduos, que é o que ocorre no caso de eleições para governo, constatamos que o procedimento é inteiramente irresponsável.

O "fundamento democrático", que afirma a superioridade da maioria, ou seja, que uma opinião defendida por maior número de indivíduos é superior a outra, defendida, por exemplo, por uma minoria qualificada para tal opinião, equivale a sustentar que 200 garrafas de vinho vagabundo, só por serem grande quantidade, possuem conteúdo superior a um único copo de vinho de alta qualidade. Ou, então, a afirmar que 1.450 indivíduos, das mais variadas profissões, estariam mais bem qualificados do que um único especialista para resolver uma questão de física quântica.

Na origem da ilusão democrática está a negação da hierarquia natural, cuja expressão mais clara encontra-se na doutrina hindu de castas, hierarquia que se estabelece, qualitativamente, de cima para baixo, isto é, desde o mais elevado - o espiritual - até o menos elevado - o material. Ao contrário, os critérios que baseiam a democracia são de ordem quantitativa e, conseqüentemente, materialistas.

A negação da superioridade qualitativa e da hierarquia pode ser ilustrada por um fato marcante ocorrido na Idade Média, mais precisamente em 1313, com a destruição da Ordem do Templo por Felipe, o Belo, então Rei da França. Este monarca secularista, cuja cobiça e projetos políticos lhe custaram a excomunhão, ordenou o cerco ao palácio do Papa Bonifácio VII que, preso e brutalizado, morreu um mês após tal afronta. Felipe força então a nomeação de um papa francês submisso, Clemente V, e, com este gesto, marca a ruptura do Ocidente com sua própria tradição, sendo o precursor do laicismo.

A contestação da superioridade sacerdotal (atitude típica do Kchatryia revoltado), em princípio, implica a negação do Princípio Único, ou Deus. Mas, respeitando a lógica, como é possível defender tal negação?

Em resposta a esta questão, veremos a seguir o que constitui a doutrina hindu de castas e, na seqüência, um resumo do estudo “O Demiurgo” de René Guénon, que trata a questão capital da existência do Princípio Único.